
o Snowden fez as denúncias, em 2013, percebeu-se que o problema era muito mais grave
do que qualquer especialista imaginou. Você pode perguntar para qualquer pesquisador no
mundo, todos ficaram chocados com a abrangência dos dados e o que era possível fazer com
esses dados de acordo com as denúncias do Snowden.
Mas acho que o que nos chocou também foi que a gente acreditava que uma vez revelado,
isso ia gerar tamanho pânico na população que essa construção de base de dados ia regredir,
e não foi o que aconteceu. Pouca coisa foi feita. Algumas empresas implementaram sistemas
mais seguros de criptografia para impedir esse monitoramento. Eu acho que a empresa que
fez isso melhor é justamente o WhatsApp. Hoje o WhatsApp tem um padrão de segurança
mais alto em resposta ao escândalo do Snowden.
Do ponto de vista legislativo, teve muito pouca coisa. Aqui a gente aprovou uma lei de
proteção de dados (Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018) com muito atraso. Aumentou a
consciência pública do problema, isto sim. Uma parcela muito maior de pessoas sabe que
esse problema existe, mas desde então ele só se agravou e se aprofundou.
As bases de dados estão cada vez mais detalhadas e sofisticadas e seu potencial de uso
é cada vez mais assustador. E eu acho que, em parte, isso aconteceu porque o escândalo
do Snowden não afetou o cidadão comum. O que temos do ponto de vista concreto? Eles
monitoraram a Dilma (Rousseff, ex-presidente do Brasil), o Rafael Correa (ex-presidente do
Equador), a Angela Merkel (primeira-ministra alemã), a Petrobrás. Isso não quer dizer grande
coisa para o cidadão comum.
“APPLE, MICROSOFT, GOOGLE, FACEBOOK E AMAZON TÊM MUITO
MAIS INFORMAÇÕES NOSSAS DO QUE QUALQUER GOVERNO, COM
A POSSÍVEL EXCEÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS.”
A privacidade morreu?
Eu acho que as pessoas não se deram conta disso. Acho que a gente vai enfrentar no
futuro um grande escândalo e só aí as pessoas vão se dar conta do tamanho do problema.
O problema todo é que as empresas de internet fazem publicidade dirigida, então
elas precisam saber onde você trabalha, quando suas férias estão chegando para te
fazer propaganda de uma viagem para Salvador. Se ela não sabe isso, ela apresenta uma
propaganda e desperdiça uma peça. E a revolução da publicidade dirigida - por isso ela tem
seu índice de sucesso grande -, é que ela é apresentada para um alvo muito específico.
Pois bem, para eu saber que você quer comprar um tênis, um celular, que você gosta de
carros, eu tenho que acumular informações sobre toda a sua vida. Houve um momento em
REVISTA DA CAASP 17 ENTREVISTA | PABLO ORTELLADO