
testar: “Bem, se eu falar determinada coisa eu recebo 10 likes, mas se eu falar determinada
coisa eu recebo 100, 200, 500, 10 mil likes”.
Como a gente fica muito tempo nas mídias sociais - na verdade, o brasileiro fica em média
quatro horas por dia nas mídias sociais -, do ponto de vista político isso vira uma grande
máquina de sansão positiva e negativa de comportamentos políticos. E a partir do momento
que eu tenho grupos políticos organizados e dedicados à comunicação digital, ocorre um
efeito crescente de reforçar determinados comportamentos políticos.
A sociedade como um todo começa a migrar para onde os grupos políticos organizados
distribuem os likes, gerando o efeito cascata. Toda a diversidade está desaparecendo.
Nos Estados Unidos, os algoritmos estão sendo usados para decidir em quais casos uma
pessoa deve receber assistência domiciliar ou não. As instituições aqui do Brasil já estão
utilizando algoritmos para decidir questões fundamentais para a vida das pessoas?
Os algoritmos são sequências de
instruções que tentam automatizar
algumas tarefas para nós. No
caso, tarefas complexas. Nós
estamos falando aqui de coisas
que vão desde, por exemplo, dar
um diagnóstico médico. Então,
eu apresento uma sequência de
sintomas e com base na experiência
passada eu faço um diagnóstico e,
para alguns casos, esse diagnóstico
é muito mais preciso do que um
médico sozinho seria capaz de
fazer.
Isso está acontecendo em quase
todos os setores: nas contratações
das empresas, na concessão de
empréstimo dos bancos, nos
cálculos de risco dos seguros,
até para fazer petições é possível
colocar os elementos atuais. O
algoritmo, com base no passado,
consegue dizer o que é preciso
incluir numa petição que irá para
uma determinada vara da Justiça
para que meu caso tenha sucesso.
Todos esses algoritmos que
automatizam tarefas e subsidiam
decisões têm gerado muita
preocupação, principalmente
em casos nos quais a tomada de
10 REVISTA DA CAASP
PABLO ORTELLADO | ENTREVISTA