
relatórios para compreender sua repercussão na realidade e aconselhar o
cliente de forma adequada. O profissional deve ser capaz de compreender
eventuais fragilidades técnicas e encontrar caminhos de prevenção e reação
eficazes.
Sem a compreensão estratégica, o Direito Ambiental não faz sentido e a
OPINIÃO 62 REVISTA DA CAASP
advocacia perde a aderência ao real.
O advogado ambiental deve se preparar também para abandonar,
muitas e muitas vezes, o conforto do escritório e ir a campo. Deve ir ver com
seus próprios olhos o que está acontecendo e procurar escutar para aprender.
Boots on the ground! (em outras palavras, saia da cadeira)
Essa compreensão nos leva a entender como a dinâmica das cidades. Os
aglomerados humanos que contam com habitações subnormais, desprovidas
de saneamento básico propiciam, por exemplo, um ambiente favorável a
propagação de doenças, como vemos agora, na pandemia do coronavírus.
A pobreza e a degradação ambiental andam lado a lado, alimentando-se
mutuamente.
A advocacia ambiental exige ética, além de preparo técnico e jurídico
porque o Direito Ambiental se sustenta na realidade. A realidade deve ser
compreendida pelo advogado para que ele não seja mero coadjuvante, mas
um ator relevante no desenho estratégico.
Quando conto que trabalho na área ambiental, muita gente suspira e
pensa que eu passo o dia pensando em baleias azuis e micos-leão dourados.
É muito menos charmoso, devo confessar. A realidade é recheada de resíduos
sólidos e áreas contaminadas. Mas eu aprendi a adorar esses desafios imensos.
E aprendi, ao longo de mais de 30 anos de advocacia pública e privada que o
que fazemos nenhum algoritmo vai conseguir fazer melhor, porque somos
movidos pelo sentimento reverente e apaixonado pelo planeta em que
nascemos. Esta é uma área que não funciona sem paixão.|
*Advogada, presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB SP.