
SAÚDE 18 REVISTA DA CAASP
destaca a importância desses organismos
ao lembrar da febre purpúrica brasileira,
infecção infantil causada por bactéria.
“Na década de 80, os serviços de vigilância
do norte do Paraná identificaram um
comportamento diferente dessa cepa de
bactérias em humanos e soltaram um alerta.
A doença chegou a outros estados, mas foi
rapidamente controlada. Felizmente, pois
sua letalidade que chegava a 70%”, recorda
o professor da USP.
Nesse sentido, o ambiente de vigilância
massiva sob o qual vive o povo chinês - por
conta de fatores sócio-político-culturais do
país -, fez ainda mais diferença no impacto
que a doença teve no país asiático, quando
comparado ao dos países ocidentais, como
observou em um artigo no jornal “El País” o
filósofo sul-coreano Byung-Chul Hang, autor
de “Sociedade do Cansaço” (2010).
“Na China não há nenhum momento da
vida cotidiana que não esteja submetido à
observação. Cada clique, cada compra, cada
contato, cada atividade nas redes sociais
é controlada. Quem atravessa no sinal
vermelho, quem tem contato com críticos
do regime e quem coloca comentários
críticos nas redes sociais perde pontos.
Toda a infraestrutura para a vigilância
digital se mostrou agora extremamente
eficaz para conter a epidemia. Quando
alguém sai da estação de Pequim é captado
automaticamente por uma câmera que mede
sua temperatura corporal. Se a temperatura
é preocupante, todas as pessoas que
estavam sentadas no mesmo vagão recebem
uma notificação em seus celulares. Não é
por acaso que o sistema sabe quem estava
sentado em qual local no trem”, escreveu
Byung-Chul Hang.
Ao ser entrevistado no Roda Viva, o
pesquisador científico Atila Iamarino
também pontuou a presteza chinesa para
detecção e resposta à Covid-19. “A China
tem suas peculiaridades por ser um
estado autoritário, mas em termos
de responsabilidade, eu ainda
acredito que eles agiram mais cedo
do que qualquer outro país agiu”,
disse Iamarino.
Além da vigilância epidemiológica
feita pela OMS, cada país, estado e
município conta com seu próprio
sistema e equipes de vigilância
epidemiológica. Mas de nada adianta
a detecção precoce de pandemias
por parte desses organismos se as
autoridades não agem prontamente
quando alertadas. E essa foi a triste
escolha dos países ocidentais.
Quando a China alertou a
Organização Mundial de Saúde
sobre o surto do novo coronavírus,
sua alta taxa de transmissibilidade,
as complicações aos pulmões e o
risco de morte que o vírus poderia causar,
Arquivo Pessoal E.W
Wadman: serviços de vigilância epidemiológica
são fundamentais.