
Companhia de capivaras às margens do rio
Pinheiros.
DIA A DIA 46 REVISTA DA CAASP
Ronaldo chegou a ir de bicicleta para visitar
um cliente em Campinas. Saiu do bairro
onde mora em São Paulo, Butantã, e foi para
a cidade que fica a quase 100 quilômetros.
Demorou 4 horas e meia. Voltou de ônibus,
com a bicicleta no bagageiro. “Por lei, os
ônibus têm que aceitar até duas bicicletas no
bagageiro. Tem empresa que não respeita,
mas é lei”, afirma.
A obrigatoriedade de aceitar bicicleta
como bagagem é um dos direitos que os
ciclistas conquistaram nos últimos anos,
mas ainda falta muito. “A cidade precisa ser
adaptada para contar com a bicicleta como
transporte regular”, reivindica Roberta.
Ela lembra que, nos últimos dez anos,
houve um crescimento de ciclofaixas, mas
“sem planejamento correto”. Para ela, é
um absurdo a cidade de São Paulo não
implantar faixas exclusivas para ciclistas nas
duas marginais. E, para isso, não precisaria
nem usar faixa destinada hoje a carros,
caminhões e motos.
É só usar a margem do rio, como existe em
alguns quilômetros da via que acompanha
o rio Pinheiros. Os ciclistas teriam um anel
viário para levá-los de um lado a outro da
cidade.
A opinião de Roberta deve ser levada em
conta pela experiência que tem não só em
deslocamentos na cidade. Ela é uma ciclista
de ponta. Além de usar as duas rodas para
seu transporte rotineiro, participa de provas
de longa distância. “A cidade tem uma mina
de ouro para o transporte, que é fazer a
ciclofaixa nas marginais, daria para chegar
até o aeroporto (Guarulhos) e também
contornar a cidade”, projeta.
Roberta conhece bem as marginais, e
também o peso da burocracia contra projetos
inovadores. Ela sempre usou a ciclofaixa
inconclusa da Marginal Pinheiros e aprendeu
a se relacionar até com as capivaras que
habitam a mata ao lado do rio.
Como há muito espaço disponível naquela
área, decidiu fazer o QG das Capivaras, mas
para atender a outro público, o dos ciclistas.
Ali montou oficina e fez um centro de
arrecadação para ações sociais relacionas ao
veículo de duas rodas não motorizado.
Ela estabeleceu relação com as
bicicletarias da cidade e passou a coletar
material descartado por essas oficinas. Com
esse material, ela e os amigos passaram a
vender como sucata e também a aproveitar
peças para consertar bicicletas de pessoas
pobres.
Arquivo R.G.
Com o dinheiro arrecadado com a venda
de sucata, organiza a cada três meses ações
sociais em favelas, sempre relacionadas a
ciclistas. Seu grupo vai até uma comunidade
e oferece alimento e doces enquanto
consertam bicicletas de moradores. Também
doam as bicicletas que recebem de ciclistas
de maior poder aquisitivo. Ao trocar a bike,
esses ciclistas acabam doando a antiga para
o QG das Capivaras. “E nós levamos para as