
Você conhece Campos do Jordão, a “Suíça
Brasileira a poucas horas de São Paulo?
Você pode viajar até lá, sem máscara e sem
internet, sem sair da poltrona, com Opulência,
o novo livro de Luis Krausz. É um romance
sobre Campos do Jordão e não é um romance
sobre Campos do Jordão. Para dizer a verdade
sobre as coisas - frase ali repetida muitas
vezes, chamando a atenção à inverdade das
coisas - trata-se da busca do tempo perdido
de qualquer cidade ou pessoa atravessada
pelo rio obsessivo do progresso.
Fundada no Século XVIII, até os anos 1980
essa estância manteve seu sotaque caipira,
suas araucárias e seu comércio local. Mas
isso iria mudar. É na época dessa mudança
que começa a trama de Opulência, com a
chegada da família Krausz mais uma vez à
sua casa de férias na Vila Yara, em Capivari,
um dos vilarejos que perfaziam a “grande”
Campos do Jordão dos anos 1980. A despeito
da resistência dos Krausz, as referências ao
nome indígena do bairro, Vila Yara, são pouco
a pouco substituídas por referências ao Sans
Souci, um novo prédio de apartamentos que
se interpõe precisamente entre a propriedade
da família e a vista do bosque do Grande
Hotel, de nobre passado. Há muito mais
do que um nome, aqui. Este Sans Souci, de
cimento e telhado de folhas de zinco, em nada
lembra o verdadeiro, o palácio construído
pelo Imperador Frederico, o Grande, perto
de Berlim, de amplas varandas e jardins
terraceados, um dos mais belos da Europa.
O nome do edifício cinzento é uma tentativa
rasa de trazer, por pretenso senso estético,
um pouco do Velho Mundo para o Novo. A
vista do bosque, agora bloqueada pelo prédio,
é substituída por outra, na memória, que não
pode ser apagada.
O capítulo de abertura descreve
Schlaraffenland, ou Cocanha, país mitológico
conhecido desde a Idade Média onde não há
necessidade de trabalhar, o alimento está
ao alcance das mãos e todos os desejos são
REVISTA DA CAASP 55
instantaneamente gratificados. Ao final deste
capítulo descobre-se onde fica essa terra:
Quem gosta de trabalhar, de fazer o bem e de
deixar de lado o mal, ali é considerado inimigo
.... Mas quem for burro, incapaz de fazer
qualquer coisa direito ... será nomeado Rei
sobre todo o país e receberá um grande salário.
(p. 10)
Nem o título escapa à lâmina afiada
da ironia no livro. A busca pela imagem de
opulência - o que é e não é - revela-se um
dos temas prediletos de Luis Krausz. Em
Opulência o leitor de Luis Krausz reencontra
um narrador conhecido desde seus primeiros
romances, um adolescente brasileiro de
família judaica, os Krausz, imigrantes alemães
que carregam - e transmitem - toda sua
bagagem centrífuga de exílio, memórias,
estrangeirismo e a vontade desesperada de
integrar-se ao novo país. Assim como o autor,
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