34 REVISTA DA CAASP
substituir os testes em animais, antes
de serem feitos os ensaios clínicos com
pessoas. Ajudará também na avaliação de
toxidade de substâncias. “Embora sejam
feitos diversos testes antes da liberação
para venda, há uma resposta variável a
esses medicamentos de acordo com a
genética de cada indivíduo. A maioria dos
testes são em populações europeias e
norte-americanas e a população brasileira
tem uma genética peculiar, que mistura
europeus, africanos e indígenas”, explica
Lygia.
A biblioteca também é uma poderosa
ferramenta de estudo de doenças comuns.
Por exemplo, entre as amostras já
coletadas, cerca de 400 são de pessoas com
hipertensão e 10% delas não conseguem
ser tratadas com os medicamentos atuais.
Pesquisadores que queiram estudar
os mecanismos da hipertensão – ou da
resistência aos medicamentos – podem
solicitar que o laboratório forneça células-tronco
desses indivíduos.
O Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (a pasta
passou a aglutinar as Comunicações no
governo Temer) tem hoje o mais esquálido
orçamento da história do setor. Em março
deste ano, houve um contingenciamento
de recursos de 44%. O total inicialmente
destinado ao setor, aproximadamente R$ 5
bilhões, caiu para R$ 2,8 bilhões - menos da
metade do orçamento de 2005.
O corte brutal gerou indignação na
comunidade científica internacional. No
final de setembro, 23 ganhadores do
Prêmio Novel enviaram carta ao presidente
Michel Temer pedindo uma revisão da
medida, com o seguinte argumento: “Isso
danificará o Brasil por muitos anos, com o
desmantelamento de grupos de pesquisa
internacionalmente reconhecidos e uma
fuga de cérebros que afetará os melhores
jovens cientistas do país”.
Em agosto, outra notícia nada boa para
a ciência brasileira. O Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), principal agência de financiamento
de pesquisa do país, dizia que não teria
recursos para bancar as bolsas de seus 20
mil pesquisadores e 90 mil estudantes a
partir de setembro.
“Na área da saúde, as consequências
podem ser radicais, tendo em vista que
inovação em saúde demanda anos de
investimentos em ciência básica de elevado
nível. O desenvolvimento de vacinas,
medicamentos etc, requer apoio financeiro
por períodos prolongados devido ao tempo
de maturação desses projetos. Qualquer
interrupção nessa área, por mais breve
que seja, causa imensos prejuízos ao país,
em especial para aqueles que dependem
do SUS”, alerta João Batista Calixto. Ele
explica: “Hoje o país importa quase a
totalidade dos insumos farmacêuticos
necessários à produção dos genéricos e
similares aqui comercializados. Será muito
difícil manter a sustentabilidade do SUS por
longo prazo se o Brasil não investir fomente
em ciência básica e estimular a inovação
para poder produzir integralmente no
território nacional parte substancial dos
medicamentos necessário ao atendimento
básico da população”.
Nos últimos 20 anos, graças aos
investimentos progressivos em ciência,
O (INCERTO)
FUTURO DA
CIÊNCIA
BRASILEIRA
SAÚDE