48 REVISTA DA CAASP
Com roteiro escrito especialmente
para eles, Spencer Tracy e Katherine
Hepburn, então casados na vida real, e que
encarnavam em Hollywood uma espécie
de casalzinho querido da América, atuam
com sensibilidade e leveza em “A costela de
Adão”, comédia de várias vertentes, sútil em
muitos momentos, como hoje é difícil de
se ver; mas que não deixa de lado o estilo
“comédia de erros!” e o mais desbragado
estilo “pastelão” em outros momentos.
Somente uma comédia podia expor de
forma tão contundente o argumento central
do filme, a crítica contumaz à impunidade
dos homens que maltratam – e matam –
suas mulheres e que eram inocentados
pelos tribunais sob o argumento da legítima
defesa da honra.
A mulher advogada supera o marido promotor no tribunal.
Neste sentido, o filme é excelente prova
de que o humor, quando bem feito, é
poderoso não só porque pode tratar de
qualquer tema como porque pode angariar
ampla atenção popular para os temas
de que trata. Foi o que aconteceu com a
película, ainda hoje considerada um dos
grandes clássicos de Katherine Hepburn,
artista com carreira no cinema de mais
de 60 anos e sempre tida como uma das
maiores atrizes de todos os tempos.
O enredo gira em torno de uma tentativa
de assassinato e do julgamento decorrente
deste ato. No entanto, para armar o cenário
da crítica aos homens que assassinam
impunemente suas mulheres, a história
inverte a situação, e, nas cenas iniciais
do filme, vemos uma mulher a seguir seu
marido infiel e atirando nele ao flagrá-lo
com a amante na cama.
Paralelamente, o diretor Geoge Cukor
nos apresenta a vida edílica de um casal de
advogados, Adam Bonner (Spencer Tracy) e
Amanda Bonner (Katherine Hepburn), que
vivem felizes e em perfeita harmonia.
Amanda resolve assumir a defesa da
mulher que havia tentado matar o marido,
CINEMA
Reprodução