De todas as promessas envolvendo as
terapias celulares, apenas uma, por ora, se
tornou realidade universal: o transplante
de células-tronco produzidas na medula
óssea ou retiradas do sangue do cordão
umbilical, para tratamento das doenças do
sistema sanguíneo e imunológico, como
leucemias, linfomas e outras 70 doenças.
Já as células-tronco embrionárias,
consideradas as de maior potencial,
carregam em sua versatilidade problema
e solução para os pesquisadores. “Como
controlar o processo de diferenciação que
transforma a célula embrionária em uma
célula específica de um tecido e não de
outro?”, pergunta Lygia da Veiga Pereira,
chefe do Laboratório Nacional de Células-
Tronco Embrionárias (LaNCE) da USP. “É por
isso que ensaios em seres humanos com
células-tronco embrionárias demoraram
muito mais tempo para serem feitos. A
gente precisa ter uma dose de ousadia e
outra de cautela”, responde.
Atualmente, existem dois testes clínicos
em andamento utilizando células-tronco
embrionárias como forma de tratamento,
ambos realizados nos Estados Unidos. Um
de 2010, com células do sistema nervoso
para o tratamento de lesão de medula;
outro, com um tipo de degeneração
da mácula, utilizando células de retina.
Lygia acredita quem em breve teremos
respostas mais claras quanto à eficácia das
células-tronco embrionárias no tratamento
das doenças, mas para ela, ainda que
não cheguem à cura, as pesquisas trarão
importantes conhecimentos básicos em
biologia humana.
Outra complicação das embrionárias,
o processo de rejeição a que estão
suscetíveis, foi driblada em 2007. O japonês
Shinya Yamanaka, Nobel de Medicina
em 2012, desenvolveu as células-tronco
pluripotentes induzidas (iPSCs), isto é,
REVISTA DA CAASP 33 SAÚDE
Lygia da Veiga Pereira: dedicação às células-tronco.
células adultas retiradas de um paciente,
regredidas ao estado embrionário,
sem recorrer à clonagem terapêutica
(procedimento semelhante ao realizado na
ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado
do mundo, em 1996). “Apesar da superação
da rejeição que essa técnica possibilitou, a
questão com as células induzidas é que,
do ponto de vista econômico, talvez sejam
uma alternativa cara”, pondera Lygia.
Por meio da técnica de Yamanaka, células-tronco
de duas mil pessoas em diferentes
regiões foram coletadas e formam agora
a Biblioteca Brasileira de Células-tronco. A
iniciativa é fruto da parceria do Laboratório
Nacional de Células-Tronco Embrionárias,
do qual Lygia é chefe, com o projeto Estudo
Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA
Brasil), realizado por seis instituições de
pesquisa brasileiras, entre as quais a USP,
e que é financiado pela Fapesp (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo).
A intenção é usar essa biblioteca na linha
de desenvolvimento de novos fármacos, o
que pode complementar ou até mesmo
Leila Fugii