escrevi um livro, traduzido há tempos para o
francês e que acaba de ser traduzido para o
alemão, que se chama “Por que eu tenho medo
dos juízes”. Eu não tenho medo do juiz Moro,
mas em geral eu tenho medo dos juízes (risos).
Michel Temer é o primeiro presidente da
República denunciado por crimes durante o
exercício do mandato. O constitucionalista
Temer decepcionou o senhor?
Existem dois Michel Temer. Existe um que é
meu amigo desde 1959, nós fizemos política
universitária juntos. Nós nos reuníamos num
grupo chamado “A esquina” – até hoje a gente
se reúne de vez em quando. “A esquina”
era frequentada por Luiz Gonzaga Belluzzo,
Maurício Vidigal, João Manuel Cardoso de Mello,
José Serra de vez em quando. Esse é o Temer
meu amigo, companheiro de “A esquina”, a
QUEM TEM CULPA
NO CARTÓRIO REAGE
DESPROPORCIONALMENTE
AO DEVER QUE O
MINISTÉRIO PÚBLICO
quem quero bem até hoje. Outra coisa é o presidente da República. Eu não misturo os dois.
Eu me preocupo muito com o meu amigo. Três pontos (risos).
O que pesa contra o presidente Temer não é escandalosamente mais grave do que as
práticas que derrubaram a presidente Dilma Rousseff?
Não sei, eu não conheço os autos.
O que tirou Dilma da Presidência foram pedaladas fiscais, recordando.
Eu insisto sempre numa coisa: como os juízes aplicam a lei, a lex, e eles a aplicam a cada
caso e cada caso é diferente do outro, para que possa dar uma opinião segura eu tenho
que conhecer as circunstâncias do caso. Realmente, eu não sou capaz de responder à sua
pergunta com segurança.
Que imagem o senhor tem da atual composição do Congresso Nacional?
Se o povo não se considerar bem representado hoje, terá uma chance nas próximas eleições
de alterar tudo isso.
Veja o que aconteceu na França recentemente, quando Macron foi eleito. Houve em seguida
as eleições parlamentares, e para uma surpresa monumental o partido do Macron, que tinha
uma quantidade mísera de votos, de repente aparece como majoritário no Congresso. Algo
desse tipo pode acontecer no Brasil, acho mesmo que vai acontecer. Quem vem aí eu não
sei, mas as coisas vão mudar.
Eu me lembro de uma canção que diz: “Nada do que foi será do jeito que já foi um dia”.
Mas a minha pergunta é se o senhor não se revolta com certas coisas defendidas, por
exemplo, pela chamada bancada BBB – Boi, Bala Bíblia. Não temos hoje um Legislativo
obscurantista?
Talvez, em função do que ocorre nas campanhas eleitorais, o candidato, depois de eleito,
12 REVISTA DA CAASP
EROS ROBERTO GRAU | ENTREVISTA
CUMPRE