PÍLULAS
“MILAGROSAS”
Todo medicamento deve ser submetido
a rigorosos testes e autorizado pelos órgãos
de saúde antes de chegar a farmácias e
hospitais. Mas com a fosfoetalonamina
(composto químico que “imita” uma
substância existente no organismo e
supostamente identifica células cancerosas
e as combate) não foi assim.
A história da fosfoetanolamina é
conhecida. Há mais de um ano as cápsulas
foram cogitadas como a cura do câncer – de
todos os mais de 100 tipos da doença, note-se.
O produto começou a ser distribuído
em larga escala num campus da USP
mesmo sem registro da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa), em virtude
de liberação judicial. Posteriormente,
chegou a contar com uma lei aprovada por
parlamentares e sancionada sem vetos
REVISTA DA CAASP 31
pela então presidente Dilma Rousseff, que
obrigava a Anvisa a regularizar a droga.
Diante da repercussão, os Ministérios da
Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação
solicitaram que quatro instituições
brasileiras (Departamento de Química
da Unicamp, Laboratório de Avaliação e
Síntese de Substâncias Bioativas da UFRJ,
Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento
de Medicamentos da UFC e o Centro de
Inovação e Ensaios Pré-Clínicos) realizassem
testes com a “fosfo”. Os resultados foram
decepcionantes: as cápsulas não tinham
nenhuma atividade anticâncer.
O número de novos medicamentos
registrado a cada ano pela Food and Drug
Administration é baixo, entre 18 e 45 nos
últimos 16 anos. As razões para a baixa
produtividade são muitas. O presidente do
Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos
(CIEnP), João Batista Calixto, membro
da Academia Brasileira de Ciências, cita
algumas delas: “Apesar dos avanços na
biologia celular, molecular e na conclusão
SAÚDE
Cecilia Bastos
Fosfoetanolamina: cápsulas que trariam a cura do câncer foram devidamente desmascaradas.