No Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, celebrado neste 25 de novembro, a CAASP reafirma seu compromisso com a proteção e o amparo às advogadas em situação de vulnerabilidade. Desde 2020, a entidade mantém um protocolo de enfrentamento à violência contra mulheres advogadas. Trata-se do Auxílio Violência Doméstica, um benefício destinado a advogadas e estagiárias com medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha e que comprovem carência financeira.
"A violência doméstica contra a mulher alcança a advocacia. Muitas colegas, infelizmente, fazem parte dessa realidade. O Auxílio Violência Doméstica da CAASP é parte da rede de apoio necessária para que as colegas recuperem sua autonomia e superem os prejuízos sociais e psicológicos que os ataques lhes causaram", afirma a presidente da CAASP, Diva Zitto.
O Auxílio Violência Doméstica prevê ajuda financeira às vítimas pelo período de seis meses, além de atendimento psicológico na rede referenciada da entidade.
Embora conheçam essa e outras políticas de enfrentamento, combate e apoio, é comum que advogadas que sofrem algum tipo de abuso demorem a buscá-las, mesmo dentro de sua própria instituição de classe. Para compreender as barreiras, os estigmas e as dificuldades que ainda afastam muitas mulheres da busca por ajuda, a CAASP conversou com a advogada, psicanalista e relatora da Câmara de Benefícios da entidade, Fernanda Ferreira da Silva.
Fernanda explica que a raiz do problema reside na socialização desigual dos gêneros, iniciada na infância. As meninas são, frequentemente, instruídas a ocupar menos espaço, falar baixo, evitar conflitos e assumir responsabilidades domésticas desde cedo. Já os meninos costumam receber mais permissões, aprendendo que possuem maior autonomia e autoridade.
“Esse desequilíbrio inicial cria uma estrutura que favorece o controle e a intimidação. É essa formação sociocultural que faz com que muitas vítimas demorem a reconhecer a situação de violência”, afirma a advogada.
A vergonha, a culpa, o medo e a forte pressão familiar, que não raramente priorizam a manutenção do relacionamento a qualquer custo, tornam o cenário ainda mais complexo e dificultam o primeiro passo da vítima. Entre mulheres advogadas, o silêncio costuma ser ainda maior.
A advogada é vista como alguém independente, autônoma, “bem resolvida” e conhecedora das leis. Assim, quando são vítimas de machismo e misoginia, muitas deixam de pedir ajuda ou denunciar seus agressores. Há um forte sentimento de vergonha, sustentado pelo estigma de que somente mulheres fracas e ingênuas se tornam vítimas. Soma-se a isso a dor da exposição profissional, isto é, levar à Justiça — o mesmo espaço onde trabalham e defendem seus clientes — as mazelas da vida íntima.
Ressalte-se que a violência pode atingir qualquer mulher. Há milhares de mulheres fortes, articuladas e talentosas que foram vítimas de algum tipo de agressão. Luana Piovani, Luiza Brunet, Lady Gaga, Rihanna, Tina Turner e Malala são só algumas delas.
A retomada da autonomia plena da vítima depende crucialmente do acolhimento. Por isso, a relatora da Câmara de Benefícios vê com bons olhos iniciativas institucionais como a da CAASP, com o Auxílio Violência Doméstica. "Informação, acolhimento e políticas de suporte como as da CAASP são essenciais para que as mulheres advogadas possam romper o ciclo de violência e reconstruir, com segurança e dignidade, suas vidas e carreiras”, afirma Fernanda Ferreira da Silva.
Como psicanalista, ela destaca a importância de que a ajuda financeira esteja atrelada ao acompanhamento psicológico. "Os relacionamentos abusivos afetam drasticamente a vida pessoal, mas também a trajetória profissional dessas mulheres. O agressor mina a autoestima, provoca inseguranças e incentiva a autossabotagem profissional. A advogada começa a se desorganizar, perde prazos, deixa de responder a clientes e, aos poucos, se torna dependente. O processo terapêutico auxilia justamente na recuperação da identidade e da autoconfiança", finaliza.