O XIX Torneio de Xadrez OAB-CAASP, que aconteceu no dia 28 de setembro na sede da Caixa de Assistência, teve um caráter inovador no âmbito da advocacia. Além da competição que movimentou 38 participantes de diversas regiões do Estado de São Paulo, premiando os 10 melhores colocados, o evento contou com duas partidas-exibição de jogadores deficientes visuais do Centro de Apoio ao Deficiente Visual (Cadevi), membros também da Federação Brasileira de Xadrez Para Deficientes Visuais (FBXDV), em uma parceria do Departamento de Esportes e Lazer da CAASP e da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da OAB-SP.
“Esta foi uma edição de aproximação e inclusão com a advocacia. Saímos daqui hoje maiores e melhores. Estou muito contente com o resultado”, declarou o diretor Roberto de Souza Araújo, responsável pelo Departamento de Esportes e Lazer da Caixa de Assist^ncia.
O campeão do XIX Torneio de Xadrez OAB-CAASP foi Marcos Guilherme Monteiro Jorge. Foi seu sexto título. Em segundo lugar ficou Cléber Moreira de Holanda e, em terceiro, Alexandre Letízio Vieira. O campeão na categoria Master (acima de 60 anos) foi João Batista Aragão Neto. Destaque também para a única participação feminina, a de Eliana Aparecida de Souza. Todos eles receberam troféu.
Os enxadristas do quarto ao décimo lugar ganharam medalhas. Foram eles: Walter Dias Cordeiro Júnior, Marcelo Varestelo, Hermes Urebe Guimarães, André Albuquerque Magalhães, Iberê Sigolo, Marco Antônio do Amaral Filho e Milton Massato Okamoto.
Roberto de Souza Araújo aproveitou o evento para anunciar que, a partir da próxima edição, ainda sem data marcada, o Torneio de Xadrez OAB-CAASP constituirá competição oficial da modalidade, rendendo pontos para o ranking da Federação Internacional de Xadrez, mesmo sendo disputado na modalidade rápida. O regulamento do torneio organizado pela Caixa de Assistência já segue as normas da Federação, de cujo ranking Além disso, muitos dos competidores do torneio da advocacia fazem parte.
Inclusão – As partidas-exibição entre os deficientes visuais Cláudio Teixeira e Seiichi Nakaura e Geral Ladeia Pereira e Glenda Felippe e Silva chamaram a atenção dos participantes do XIX Torneio de Xadrez OAB-CAASP.
O xadrez para cegos têm adaptações. Em vez de um tabuleiro, são usados dois. Cada jogador precisa reproduzir a jogada anunciada em voz alta pelo adversário. O tabuleiro é adaptado. As casas pretas têm altura diferente das brancas, bem como as peças de cada cor se distinguem pelo tato. Abaixo delas há pinos para que fiquem presas a pequenos buracos no tabuleiro. Como os jogadores “leem” o jogo com as mãos, o pino ajuda as peças a ficarem fixas. Na borda do tabuleiro, estão escritos em braile o número e a letra a que corresponde cada casa.
Antes da exibição, os enxadristas fizeram pequenos discursos. Glenda Felippe e Silva destacou a independência e a autonomia que o xadrez a ensinou a ter desde a perda de sua visão, aos 20 anos. “Consigo ter a vida que planejei”, resumiu.
Geraldo Ladeia, por sua vez, ressaltou a socialização que o esporte é capaz de promover. “Graças ao xadrez fiz amigos”, destacou.
Os enxadristas também demonstraram apreço pela oportunidade que a CAASP abriu para a modalidade. “Foi uma chance de mostrarmos nossa capacidade”, observou Nakamura. Seu colega Teixeira completou: “Oportunidade de mostrar que não existem limites”.
Os enxadristas cegos jogaram com seus próprios tabuleiros, mas a Caixa de Assistência recebeu da Total Inclusão, empresa que produz e comercializa jogos de tabuleiro adaptados para deficientes, um tabuleiro adaptado para usar nas próximas competições. “Nosso gesto é um incentivo para que o processo de inclusão continue”, disse Silvio Ferreira, representante da empresa.
As partidas-exibição aconteceram graças a uma parceria do Departamento de Esportes e Lazer da CAASP e a Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da OAB-SP, na pessoa de Mario Hiroshi Ishihara, advogado, deficiente físico (ainda recém-nascido foi vítima de paralisia infantil), membro da comissão e participante do torneio da CAASP.
“Minha participação hoje visa a dar visibilidade à causa e despertar nos colegas a vontade de participar das atividades da Ordem e da CAASP, de forma inclusiva e interativa com outros colegas, o que no caso do xadrez é totalmente possível”, pontuou Ishihara.
Rafael Gobara, também membro da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da OAB-SP, salientou: “Temos dentro da Comissão um núcleo que discute a inclusão dos deficientes no esporte, lazer e turismo na sociedade. Nossa intenção, agora, é promover isso com mais força dentro da nossa entidade de classe”.
A iniciativa foi aprovada pelos participantes do XIX Torneio de Xadrez OAB-CAASP. “Eu realmente fiquei muito feliz de participar desta edição e de ver essa tentativa de democratização do acesso ao torneio”, disse o campeão Marcos Guilherme Monteiro Jorge.
“Tenho 62 anos e sou aposentado. Sei o quanto esse campeonato me encoraja e estimula a participar de outros torneios, isto é, de seguir ativo na terceira idade. Então é louvável que a CAASP tenha essa postura inclusiva e propague essa motivação para os portadores de necessidade especial”, disse Aragão Neto.
“O xadrez é meu grande companheiro hoje, meu momento de lazer, e ele pode ser isso também para muito mais pessoas, como vimos aqui hoje”, observou a Eliana Aparecida.
O jogo-exibição tocou fundo nas memórias de Iberê Sigolo. Advogado há quatro anos, ele aprendeu a jogar xadrez com o pai, que é deficiente visual. “Aprendi a jogar xadrez ainda criança, num tabuleiro adaptado, como o que temos aqui hoje. O jogo me proporcionou momentos de troca muito felizes com meu pai. É emocionante ver a CAASP abraçando essa causa”, afirmou Sigolo.
Fotos: José Luís da Conceição