Márcia Rocha, primeira advogada com nome social na Carteira da OAB. SAÚDE 32 REVISTA DA CAASP com o feminino. Na escola, eu gostava de andar com as meninas e quando separavam os meninos das meninas eu queria ficar com as meninas. Até que a professora falou ‘olha, você é menino. Você precisa ficar com os meninos’. Depois disso eu não queria mais ir à escola, foi um incômodo muito grande”, recorda Márcia. Na tentativa de reproduzir externamente seu desejo e sua forma de pensar, Márcia adotou uma atitude recorrente e perigosa entre as transexuais: o uso indiscriminado de hormônios, aos 13 anos. O pai, Cluny Antônio, era o único que sabia de sua condição e ainda na adolescência a convenceu a não “sair do armário”. Márcia passou a viver uma vida dupla. Em seu comportamento social não deixava transparecer nada que pudesse revelar sua verdadeira identidade de gênero. Escondida, travestia-se de mulher. Discreta, cursou Direito, casou-se com uma mulher e tornou-se pai sem que ninguém percebesse sua verdadeira identidade de gênero. Até que, aos 39 anos, decidiu compartilhar o segredo com a esposa e a filha. Na mesma época, voltou a se hormonizar. A decisão culminou no fim do casamento. Aos poucos, Márcia se abriu a amigos. As reações foram as mais diversas. “Minha irmã ficou muito triste por mim, por saber que eu passei por isso a vida inteira sem que eles soubessem. Meu irmão ficou pasmo, no começo não queria acreditar. Minha mãe foi a última a saber, e até hoje ela fala: ‘para mim, eu tive um filho’”, conta a advogada. Aos 45 anos, quando características Jpsé Luís da Conceição femininas já eram notáveis em seu corpo em decorrência do tratamento hormonaç, Marcos Cesar Fazzini da Rocha deixou o nome de certidão e adotou a identidade social de Márcia Rocha. Membro da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-SP, ela passou a se apresentar ao público respeitando sua identidade de gênero. Em 2013, contudo,
Revista da CAASP - Edição n° 28
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