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Revista da CAASP - Edição n° 28

Revista da CAASP – Você integra o grupo dos chamados “filósofos populares”, ao lado de Mário Sérgio Cortella, Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé. Como a academia enxerga a atuação de vocês? Clóvis de Barros Filho – Eu vou falar por mim. Essa nomenclatura de “filósofo” me incomoda muito. É claro que a gente sabe que a nossa identidade não depende só do nosso entendimento sobre nós mesmos, mas é o resultado de uma construção social, portanto não controlamos completamente o que pensam de nós. Eu não me vejo como filósofo, não me entendo como filósofo, não gosto dessa nomenclatura, acho que os filósofos são outras pessoas, e gosto um pouco de dizer que me sinto em relação aos filósofos como o torcedor na arquibancada vendo os jogadores de futebol. O torcedor pode até jogar futebol de vez em quando, ele pode ter preferências, pode conhecer as regras, pode saber as últimas contratações, pode realmente estar envolvido, mas ele não é o jogador. Eu observo os filósofos e procuro aprender com eles. Já os demais que você citou terão um entendimento que pode não coincidir com o que eu estou dizendo. Sobre a maneira como a academia nos vê, eu, durante muito tempo, estive na academia, trabalhando em escolas de comunicação. E fiz um pouco de tudo. Trabalhei em escolas privadas e em escolas públicas. Trabalhei em graduação, em pós-graduação lato sensu, em pós-graduação stricto sensu. Fui pesquisador de programas de pós-graduação, representando programa junto à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, fundação vinculada ao Ministério da Educação), e portanto posso dizer que na academia fiz um pouco de tudo. Mas sempre no campo da comunicação, onde era professor de ética. Então, é normal que, sendo professor de ética para alunos de publicidade, relações públicas e jornalismo, eu tenha me interessado, na condição de observador externo, pela produção filosófica sobre o tema e, de certa maneira, me sentido no direito de, aqui e acolá, me servir dando crédito às coisas que eu li para ajudar meus alunos a pensarem melhor sua profissão. Só isso. Eu tenho a impressão de que a academia sempre viu com bons olhos o meu trabalho, porque, no final das contas, tendo feito um pouco de tudo de maneira muito autorizada, tendo percorrido todas as instâncias acadêmicas tradicionais – especialização, mestrado, doutorado, livre-docência, concursos de ingresso etc, com algum êxito –, eu posso imaginar que a academia sempre aplaudiu, a grosso modo, minha trajetória. Como os acadêmicos avaliam os livros escritos por vocês, “filósofos populares”, com perdão pelo termo? Eu tenho a impressão de que deve haver um pouco de tudo. Deve haver gente que vê essa iniciativa como negativa, porque aproximar o repertório de um interlocutor não iniciado exige uma simplificação que talvez seja redutora da complexidade e do rigor. Talvez. Por outro lado, penso eu, é um preço a se pagar para tirar o saber do encastelamento em que sempre esteve. Compartilhar o saber é a finalidade, correto? 10 REVISTA DA CAASP ME SINTO EM RELAÇÃO AOS FILÓSOFOS COMO O TORCEDOR NA ARQUIBANCADA VENDO OS JOGADORES DE FUTEBOL CLÓVIS DE BARROS FILHO | ENTREVISTA


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