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ESPECIAL 28 REVISTA DA CAASP agarra a oportunidade e vai à luta”, afirma. Quando José Vicente cursou Direito nas Faculdades Integradas de Guarulhos ou fez a pós-graduação na Universidade Metodista de Piracicaba, era difícil encontrar outro negro na sala de aula ou mesmo nos corredores. “Eu fui o primeiro da minha família a conquistar um diploma de ensino superior”, conta. Depois dele, outros membros da família se animaram e hoje os mais jovens são todos formados em faculdades. Se a política de cotas deu certo no ensino superior, por que não tentar na representação política, com a reserva de um percentual mínimo de vagas para negros nas chapas ou mesmo na composição dos diretórios e das executivas dos partidos? Esse é o questionamento que José Vicente faz, mesmo ciente de que os eleitores no Brasil não levam em conta o critério racial na hora de votar. “Mas já seria um começo, sairíamos da inércia”, afirma. Inércia que, lembra ele, remonta a um passado já distante, o da abolição da escravidão. Na sala do reitor na Faculdade Zumbi dos Palmares, chamam a atenção fotos ampliadas de políticos que visitaram a instituição, entre eles os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-secretária de Estado americana Hilary Clinton. José Vicente mostra outros dois quadros de sua sala como representativos da realidade do negro ao longo da história: a Lei Áurea e a foto da primeira turma de Administração formada pela Zumbi dos Palmares, fatos separados por quase 120 anos. “A Lei Áurea aboliu a escravidão, nada mais. O negro deixou de ser escravo, mas não teve lugar para morar, terra para trabalhar ou qualquer outro tipo de apoio, para não falar em compensação. Só muito tempo depois, o negro conquistou o ensino superior. Muito tempo, muito desgaste, ruim para o negro, ruim para o Brasil. O resultado está nos morros do Rio de Janeiro, dominado pelo crime. O negro é invisível na política e uma das causas, talvez a principal, seja a sub-representação”, diz. O pequeno número de negros na política é apenas uma das evidências do que José Vicente chama de “racismo subjetivo”, aquele que permeia as estruturas de poder da sociedade sem ser explícito ou francamente hostil. “O Brasil tem 4 mil instituições de ensino superior. E sabe quantos reitores negros? Um. Eu”, comenta. Essa situação já levou a situações constrangedoras, como em reuniões no Ministério da Educação. José Vicente já ouviu várias vezes pessoas perguntarem: “O reitor vai demorar?” “Racismo não existe no Brasil? Perdi a conta de quantas vezes em restaurantes demoraram para me atender. Ainda nos veem como serviçais. Não nos veem na política ou em posições de poder. Os partidos repetem essa realidade. É um racismo estrutural”, define. Na Câmara Municipal de São Paulo, basta olhar para a galeria de ex-presidentes para ver que apenas um negro comandou a casa como titular. Trata-se de Paulo Rui de Oliveira, eleito presidente em 1981, quando dois experientes vereadores brancos se desentenderam na disputa pelo cargo. Para impedir a vitória do adversário, Antônio Sampaio, já falecido, retirou a candidatura em benefício de Paulo Rui de Oliveira, o único vereador negro da casa e, aparentemente, comprometido com Brasil Vita, o rival de Sampaio. Paulo Rui foi eleito e seu quadro tem uma marca que muitos identificam como uma cusparada de Brasil Vita, dada quando este retomou o comando do Legislativo, alguns anos depois. Na época, segundo escreveu o jornalista Antônio Lúcio, pioneiro na cobertura do movimento negro no Brasil, o comentário que se fazia pelos vereadores derrotados na Câmara Municipal é que a vitória de Paulo Rui foi “rasteira política urdida por


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