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Revista 25 --

Eu pedi que fosse convidado o vice-presidente Itamar para comparecer ao Senado, e ele foi acompanhado do ministro da Justiça, Célio Borja. Era uma sexta-feira. Borja me contou que Itamar estava querendo tomar posse na segunda ou na terça-feira, final de ano. Eu ponderei ao vice-presidente Itamar: “Vossa Excelência vai esperar até segunda-feira? O Ministério o senhor forma quando quiser, os militares acabaram de sair do governo... o senhor vai esperar por REVISTA DA CAASP 13 quê?”. Ele não resistiu e assumiu. Na verdade, ele queria fazer uma coisa mais solene. O senhor acha que o Brasil evoluiu institucionalmente de Collor até hoje? Muita gente teme que estejamos caminhando para uma espécie de ditadura do Judiciário. Eu acho que isso é uma ilusão de ótica. O Judiciário tem que cumprir a missão dele. O que está acontecendo com o Supremo atual, e que não acontecia quanto eu integrava a corte, é um maior ativismo. Há muita omissão do legislador que o Judiciário procura suprir. Quando alguém não ocupa o seu espaço, outro ocupa. O Judiciário não pode deixar de cumprir a Constituição só porque o Legislativo não está cumprindo. Por exemplo... No caso da greve dos funcionários públicos. Até hoje está para sair a lei, e não sai. O que fez o Supremo? Mandou aplicar a Lei de Greve, e eu acho que fez muito bem. Vamos falar de corrupção e da Operação Lava Jato. O que o senhor acha do fato de o Governo Michel Temer contar com pessoas delatadas ou investigadas? Isso não deveria ser evitado, face às bandeiras anticorrupção que ajudaram a derrubar Dilma Rousseff? Eu não sei se o Michel Temer sabia que havia denúncia contra certas pessoas que ele nomeou. Assim que elas foram nomeadas, surgiu o problema e elas foram afastadas. Não deixou de haver providência. E quanto ao processo em curso no Tribunal Superior Eleitoral? Com a eventual cassação da chapa vencedora, Michel Temer perderia a Presidência? Se for julgada procedente a alegação de abuso de poder político e de poder econômico, eu acho que cai a chapa. Há uma intenção de separar as campanhas dele e da Dilma, mas eu não sei se o TSE vai decidir nesse sentido. Que eu saiba, não há precedentes. Se houve a separação das contas e ele provar, é possível que o TSE acolha isso, mas ele vai ter que provar. Normalmente, cai a chapa, e se cair a presidente cai também o vice. O ministro Gilmar Mendes disse que a Lei da Ficha Limpa é tão ruim que parece ter sido feita por bêbados. O senhor concorda com ele? ENTREVISTA | SYDNEY SANCHES


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