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Revista da CAASP - Edição 24

Ele é homossexual e por isso sofreu um atentado. Seu país, de maioria muçulmana, tem histórico de intolerância com a homossexualidade. “Se eu ficasse lá, eu seria morto”, diz. Assim, ele deixou pai e mãe e escolheu viver no Brasil, onde se sente livre. Ansu já conseguiu a Carteira de Trabalho e faz um curso de Português. Quer dar aula de inglês, seu idioma original, para brasileiros. Ansu se aproximou da reportagem quando Esdras Tumba, da República do Congo, falava sobre como veio parar no Brasil. Em janeiro, o pai embarcou com ele num avião para São Paulo e o deixou aqui, com a recomendação de que não voltasse para o Congo. Seu irmão mais velho foi mandado para a França e a mãe viajou para Angola. Esdras tem contato apenas com a mãe e sonha ir para os Estados Unidos, depois de juntar algum dinheiro trabalhando no Brasil. Perguntado se se sente bem aqui, diz que sim, mas é grande a saudade da família, principalmente do pai, que ele não sabe se está vivo ou morto. “Deus é quem sabe”, resigna-se. A tragédia da família começou quando o pai de Esdras trocou de partido político no Congo, deixando o governista RDC e indo para a oposição. O RDC ganhou a eleição e começou a perseguir opositores. “Muitos amigos do meu pai foram assassinados e nós fugimos do Congo”, conta. Sozinho no Brasil, fez amigos e já conseguiu emprego numa empresa de logística em Guarulhos, onde recebe cerca de R$ 1.100,00, além de REVISTA DA CAASP 45 ESPECIAL vale-refeição e vale-transporte. O angolano Gilson Sebastião morou três meses na Missão Paz e trocou de endereço há dois meses, mas ainda vai lá de vez em quando, para rever amigos e pegar a correspondência. Trabalha em serviços gerais na Prefeitura de São Paulo – principalmente como pintor e na limpeza de terrenos. Ganha R$ 1.050,00, mais vale-refeição e vale-transporte. Ao contrário de Ansu, de Serra Leoa, e de Esdras, da República do Congo, que estão no Brasil na condição de refugiados, Gilson veio ao Brasil em busca de oportunidade de trabalho e também para satisfazer um desejo de aventura. Em janeiro deste ano, formado no colégio, ele juntou dinheiro, comprou passagem de avião e veio para o país que passou a admirar depois de ver novelas na televisão. Paga R$ 370,00 de aluguel por um imóvel de quarto e banheiro, e diz, sorrindo, que já está namorando. “O dinheiro que recebo é pouco, mas dá para viver. Acho que estou melhor aqui do que eu estaria se vivesse em Angola”, sentencia. O atendimento aos imigrantes na Ansu, de Serra Leoa: perseguido em seu país por causa da orientação sexual. Ricardo Bastos


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