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Revista da CAASP - Edição 24

A Missão Paz tem um orçamento de R$ 900 mil , receita bancada com recursos próprios da congregação fundada por João Batista Scalabrini, sacerdote católico que atuou em defesa dos imigrantes há mais de 150 anos. Seu trabalho era no norte da Itália, numa época em que os italianos deixavam o país em busca de oportunidades na América, principalmente no Brasil e nos Estados Unidos. Parise conta que, entre os pertences de Scalabrini, foi encontrada uma carta de um italiano que vivia no Brasil, na qual ele diz que os imigrantes estavam sendo tratados aqui “piores do que animais”. “Dificuldades existiam e existem”, afirma o padre. É por essa razão que a Missão Paz, com seus mais de trinta funcionários e um número ainda maior de voluntários, oferece assistência jurídica, social, médica e odontológica. Na linha de frente desse trabalho estão pessoas como Isabel Mercado Sandoval, que veio da Bolívia há 45 anos e se estabeleceu no Brasil, onde casou e teve filhos. Isabel recorda que sofreu preconceito e teve outros problemas por ser estrangeira. “Meu pai foi enganado por despachantes que prometiam regularizar documentos e perdeu dinheiro. Minha mãe também se deu mal quando se associou a uma mulher para montar um salão de cabeleireiro. Ficou sem nada”, diz. A família de Isabel veio para o Brasil fugindo da perseguição política na Bolívia. O pai vendeu tudo e se estabeleceu em São Paulo. No início, morou em um hotel na região da Luz, depois no bairro de Santana, e finalmente, com a poupança se esgotando, foi morar em um cortiço na Vila Esperança, Zona Leste. Isabel deu a volta por cima. Estudou, se formou enfermeira, casou-se e hoje mora no Tatuapé, onde leva uma vida REVISTA DA CAASP 43 ESPECIAL Padre Parise: “Se não vier de país rico, o imigrante é visto com preconceito” Ricardo Bastos confortável. Aposentada, dedica-se ao trabalho voluntário na Missão Paz. Na avaliação de Isabel, a situação do imigrante que vem de outros países da América do Sul melhorou graças ao Mercosul, que facilita a obtenção de visto de permanência. “Quando minha família chegou aqui, era muito difícil”, recorda. O que aumentou, segundo ela, foi o preconceito. “Em época de crise, as pessoas rejeitam o imigrante, porque acham que eles vão roubar o emprego. Mas isso não é verdade”, afirma. Isabel diz que já atendeu médico formado na Nigéria que vem ao Brasil para trabalhar como cuidador de idosos. “O diploma dele não tem valor aqui, mas ele faz um trabalho que muitos brasileiros não querem fazer e tem uma qualificação que é boa para o Brasil e os


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