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Revista da CAASP - Edição 24

O BNDES, no debate entre economistas, tem três amores. Um amor é do pessoal mais liberal, cujo sonho é fechar o banco. Outro amor é do pessoal mais keynesiano, da Unicamp, que olha o BNDES como a solução para a maioria dos problemas brasileiros. E tem um grupo, ao qual eu pertenço mesmo sendo da Unicamp, para o qual o BNDES é uma instituição importantíssima para o desenvolvimento do Brasil, mas para trabalhar em conjunto com o sistema bancário privado e o mercado de capitais. Ele, sozinho, não consegue atender a todas as demandas que existem no mercado. A opção da Unicamp criou todos os problemas que estão aí, portanto está descartada. Então, o debate que existe hoje, que é um debate civilizado, é sobre qual seria a extensão do mandato do BNDES. A opção ultraliberal – acabar com o BNDES – também está descartada? Sim, está descartada. Você vai ter o bom debate. E qual é o bom debate em relação ao BNDES? É sobre qual espaço ele deve ter na estrutura do sistema financeiro e do mercado de capitais no Brasil. Talvez tenha havido exageros na gestão de Luciano Coutinho. De qualquer modo, o BNDES não foi responsável por impulsionar grandes projetos de interesse do país, o que é justamente sua finalidade? Sim, lógico. A Embraer existe porque o BNDES a apoiou no começo, e hoje é uma potência. Existe um espaço claro de atuação do BNDES, o importante é não exagerar na dimensão de sua ação, que na minha opinião foi o que aconteceu na gestão do Luciano Coutinho. Por exemplo, o BNDES se tornou monopolista do financiamento de caminhões e, ao ficar monopolista porque tinha juros baratos, expulsou todo o sistema bancário privado do financiamento de caminhões. Agora, que o financiamento do BNDES parou, isso terá que ser reconstruído. Para mim, o BNDES tem uma posição fundamental no nosso sistema financeiro, mas sempre em parceria com o setor privado, e nunca querendo resolver sozinho todos os problemas de financiamento do Brasil, porque não há condições para isso. A nova presidente do BNDES, Maria Sílvia Bastos Marques, pensa como o senhor? Eu estou um pouco à esquerda dela, mas não muito. O governo interino tomou agora 100 bilhões de reais em ativos do BNDES... É, mas é um dinheiro que não tinha sido usado... foi muito dinheiro para o BNDES antes. Eu conheço bem: o orçamento do BNDES é um orçamento grande, dá para ele cumprir a missão dele. Colocaram 500 bilhões no BNDES – não dá nem tempo de gastar esse dinheiro. 30 REVISTA DA CAASP LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS | ENTREVISTA


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