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Revista da CAASP - Edição 24

para a indústria no Brasil. O país tem regras nas áreas trabalhista e fiscal que estão em desacordo com o ambiente de negócios. Vou dar um exemplo: telefonia. Na telefonia, 60% do valor agregado cobrado do consumidor são impostos. Nós não podemos usar a telefonia de outros países, onde o imposto é mais baixo. Não tem jeito, nós temos que pagar o preço com essa taxa de impostos - eu incluo em “impostos” também custos trabalhistas etc, toda essa estrutura de custos associada à produção. Então o sujeito importa, porque fora é mais barato. O remédio que o senhor sugere não é baratear a mão de obra, ou é? Não sei, mas não existe outro país no mundo em que o custo da mão de obra dobra com os encargos. Esse é um dos pontos centrais da discussão que será colocada agora. São necessárias reformas, e aí terá conflito em relação a direitos adquiridos, mas a sociedade vai ter que optar. Essa é uma das pautas mais difíceis é compatibilizar uma nova estrutura de custos da indústria com os chamados direitos adquiridos. Não é possível cobrar impostos do jeito que se cobra aqui. Para mim, essa é a grande incógnita sobre o futuro. Dilma Rousseff não desonerou setores da indústria? Sim, mas aquilo só daria certo se o governo parasse de gastar. Ela não fez isso, foi obrigada a se endividar, aumentou a dívida pública, cobriu esse buraco com a dívida do governo. Essa forma de lidar coma questão fez com a dívida do governo chegasse a um nível tal que fez surgir a dúvida: será que o governo vai conseguir pagar isso? Outro item importante da agenda é como compatibilizar essa equação financeira do governo para dar uma estabilidade ao crescimento da dívida. O senhor mencionou a telefonia. O que levou a Oi à situação atual de pedir recuperação judicial? O desastre dela não foi anunciado no seu nascimento, inicialmente denominada Telemar, quando o senhor era ministro das Comunicações? O que nós fizemos naquela época? O Brasil tinha o monopólio público, havia uma única empresa de telefonia no país todo. Sem competidores, essa empresa cobrava o que queria, cobrava quatro ou cinco mil dólares por um telefone. Além disso, o governo não tinha dinheiro para investir. Era o próprio consumidor quem comprava o telefone a prazo, pagava o governo para depois receber o telefone. Havia uma limitação de investimento muito grande, num segmento em que a mudança tecnológica estava começando a gerar o que nós temos hoje. Hoje, quem não tem um telefone está fora do mercado de trabalho. O governo do Fernando Henrique – e o ministro Sérgio Motta (que antecedeu Mendonça de Barros no Ministério das Comunicações) – decidiu romper o monopólio e criar várias empresas privadas para prestar o serviço, de modo a ter competição e recursos para investir. Na privatização ficou estabelecido que os grupos nacionais que quisessem entrar no jogo teriam que fazê-lo associados a uma empresa internacional de experiência, com know-how. O único grupo nacional que decidiu não cumprir essa recomendação foi a Telemar. Então, você deduz que os problemas dela hoje vêm exatamente da falta de conhecimento do mercado. Quando eles já estavam em dificuldades, a associação com a Portugal Telecom foi a pior 28 REVISTA DA CAASP LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS | ENTREVISTA


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