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Revista da CAASP - Edição 24

OS EMPRESÁRIOS SABEM QUE O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL É UMA COISA MUITO IMPORTANTE 14 REVISTA DA CAASP O que é a Doença Holandesa? É um conceito do novo-desenvolvimentismo, para começar. Eu fui formado no Desenvolvimentismo Clássico, de economistas estrangeiros como Arthur Lewis, Narksy e Myrdal, de economistas latinoamericanos como Raúl Prebich, Celso Furtado e Inácio Rangel. Era a teoria econômica que em inglês se chamava Developmental Economics, e que na América Latina foi chamada de Estruturalismo Latinoamericano. Eu chamo isso tudo hoje de Desenvolvimentismo Clássico. Foi esse Desenvolvimentismo Clássico que orientou a, digamos, grande revolução industrial brasileira, do México e de outros países, que foi altamente bem-sucedida entre 30 e 80, mas aí paramos. Esse Desenvolvimentismo Clássico também deixou de apresentar contribuições importantes a partir de meados dos anos 60, as ideias foram ficando velhas. Então veio o neoliberalismo a todo vapor, e a Teoria Econômica Neoclássica. A partir do início dos anos 2000, começa a surgir o que está sendo chamado de Novo Desenvolvimentismo, que é pegar as ideias desenvolvimentistas clássicas e a teoria keynesiana, ou dos pós-keynesianos, e usá-las para entender no Século XXI países de renda média como o Brasil. Todas as teorias históricas de economia têm uma tendência. As teorias quase fundadoras da economia, que são as teorias de economia política clássicas de Adam Smith, David Ricardo, Malthus e Marx, tinham uma tendência à estagnação ou à queda da taxa de lucro. Depois, o pensamento keynesiano, que é histórico também, tem uma tendência à insuficiência de demanda. Depois o Desenvolvimentismo Clássico tinha e tem sua tendência, que é a tendência à deterioração dos termos de troca. E, finalmente, o Novo Desenvolvimentismo tem uma tendência à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio. Isso que dizer que a taxa de câmbio é volátil, mas é volátil segundo uma regra, a de que quando você tem uma crise financeira há uma brutal depreciação da taxa de câmbio, depois a taxa de câmbio, por uma série de fatores, vai se apreciando até chegar num piso, e aí fica alguns anos nesse piso, e depois você tem outra crise financeira e outra vez o câmbio deprecia. Uma das causas fundamentais dessa depreciação é a Doença Holandesa. Trata-se de uma sobreapreciação de longo prazo da taxa de câmbio, devido ao fato de que este país exporta commodities que se beneficiam de rendas ricardianas, que significa que elas podem ser exportadas a uma taxa de câmbio substancialmente mais apreciada do que a taxa de câmbio necessária para que as empresas de bens industriais, ou mais tecnicamente de bens transacionáveis não-commodities, se tornem competitivas quando usam tecnologia do estado LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA | ENTREVISTA


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