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Revista da CAASP - Edição 24

A ideia de que se pode acabar com o Estado de Bem-Estar Social brasileiro não vai vingar, porque o povo não vai deixar e porque há políticos sensatos que vão segurar a coisa. Mas, durante algum tempo vive-se o clima desse ministro da Saúde, que deu aquela declaração (Ricardo Barros, questionou a universalidade do SUS). O próprio Temer o desautorizou algumas horas depois. Sabe-se que a inflação brasileira, neste momento, não vem da demanda. O que o senhor diz de economistas que defendem que se force um maior desemprego para conter a inflação? O desemprego deve ser combatido sempre - esse é o princípio fundamental do Keynes (John REVISTA DA CAASP 13 Maynard Keynes) -, mas se supunha que quando se tem desemprego a inflação zera. Pode-se com isso entrar num problema de deflação, o que está preocupando muitos europeus, por exemplo. Agora, aqui no Brasil você entra numa enorme recessão e a inflação estava em 10%, baixou para 8%, mas ainda está alta. Por quê? Porque existe um componente inercial ainda forte na inflação brasileira. Isso é uma teoria que eu ajudei a desenvolver no começo dos anos 80, quando se percebeu que a inflação era totalmente resistente à recessão. O Nakano (Yoshiaki Nakano, professor da FGV) e eu escrevemos um livro que juntava nossos principais artigos sobre isso, que se chama “Inflação e Recessão”, o qual está disponível para quem quiser lê-lo, e muita gente leu. Como se combate esse tipo de inflação? Não é com recessão. É preciso desindexar a economia. O Plano Real foi um processo de desindexação da economia muito engenhoso, muito bem feito. Mas continua-se com indexações muito importantes: você tem a Selic, que continua indexada, a taxa de juros indexada, isso é um absurdo - ou pós-fixada, como eles chamam. Você tem as concessões públicas indexadas, o que não faz o menor sentido. Deveria existir uma lei geral que proibisse terminantemente o Estado brasileiro de firmar qualquer contrato com quem quer que seja que tivesse cláusula de indexação. O governo faz uma concessão de estrada de rodagem, mas aí fica o pedágio congelado para sempre? Não, quando for a hora de renovar o contrato verifica-se qual foi a inflação, qual foi a produtividade e vai discutir um reajuste, nunca uma coisa automática definida por um índice. ENTREVISTA | LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA


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