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Revista da CAASP - Edição 24

pública, o que é fundamental, você tem o orçamento, e o orçamento tem que ser levado a sério. Você veja, quando, em 2015, primeiro ano do segundo mandato da Dilma, o Nelson Barbosa era o ministro do Planejamento e propôs um orçamento com déficit, caiu o mundo em cima dele. Uma coisa de um ridículo total! E ele estava dizendo: “dados os números que eu tenho aqui, não há a menor chance de eu zerar isso...” Agora, o governo está trabalhando com um déficit neste ano e no ano que vem. Isso é mais realista. Agora, com quem se contrata isso? O orçamento, numa democracia, é um contrato que faz o governo com os seus cidadãos, e esse contrato é feito no âmbito do Congresso, que aprova a Lei Orçamentária seriamente. É nesse orçamento que você tem que fazer o ajuste para recuperar o superávit primário e estabilizar o crescimento da dívida. Isso tem que ser feito contratualmente, e, portanto, politicamente, e nunca com um teto que vai trazer repercussões muitas vezes completamente irracionais. O que nós temos que aprender é que, se você quer aumentar os serviços públicos, você tem que aumentar imposto, e isso tem que ser negociado com a sociedade - é assim que se faz em países civilizados. Para sair dessa crise fiscal - e eu acho que este governo já percebeu isso - é preciso um aumento de imposto. Que imposto o senhor aumentaria, ou que tipo de imposto o senhor criaria? O que eu acho melhor é a CPMF, porque é bem geral, bem abrangente, impossível de sonegar e facilita a verificação dos outros impostos. Esse imposto deveria voltar, eliminá-lo foi fruto de uma campanha equivocada feita anos atrás. A proposta de se acabar com os percentuais mínimos de gastos com saúde e educação não revela uma intenção, que certos setores nem escondem, de enterrar o capítulo da Seguridade Social da Constituição? Isso entrou na lógica e no discurso original do novo governo. O PMDB e o Centrão - o Temer, o Cunha e o Jucá -, a meu ver, disseram assim: “agora a gente vai fazer tudo aquilo que os empresários querem”. Isso é o neoliberalismo, é acabar com o Estado de Bem-Estar Social. Só que não é o que os empresários de fato querem. Os empresários sabem que o Estado de Bem-Estar Social é uma coisa muito importante, e é uma forma barata de garantir um padrão de vida minimamente satisfatório para a população, o que é necessário também para os empresários. 12 REVISTA DA CAASP LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA | ENTREVISTA


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