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Revista da CAASP - Edição 24

O Meirelles está, por enquanto, muito calmo. Ele está fazendo aquilo que o Nelson Barbosa estava fazendo, cortando despesa na área corrente, gradualmente. O que o Nelson queria fazer também era cortar os investimentos - eu duvido que o Meirelles seja capaz de fazer isso. A contradição entre o discurso da austeridade e o gasto, as concessões de reajuste em decorrência de composições políticas, não deixa o ministro Meirelles um pouco desconfortável no governo? Acho que sim, ele deve ficar desconfortável. Nós estamos vivendo no Brasil um golpe político. É um golpe parlamentar, um golpe branco. O fato concreto é que não havia nenhuma razão para se fazer o impeachment da Dilma em termos objetivos, em termos jurídicos. A questão das pedaladas é uma coisa ridícula, todo mundo fez antes, não é motivo para fazer um impeachment. Agora, vem o governo Temer em seguida, e por que esse governo vai fazer melhor? Vai EU NÃO TENHO NENHUMA SIMPATIA PELO TETO DE GASTOS PROPOSTO PELO GOVERNO INTERINO REVISTA DA CAASP 11 fazer melhor do que a Dilma fez em 2013 e 2014? É verdade, aquilo foi realmente um grande erro da Dona Dilma, mas eu não vejo como isso pode ser mudado de um dia para outro. Tem que se fazer o ajuste fiscal, mas gradualmente. Eu não estou aqui bravo com o Meirelles porque ele não está fazendo tudo quanto deveria, não, não há condições materiais para fazer mais do que ele está fazendo. O que eu estou preocupado é com o tal do teto do gasto público, essa reforma que eles estão dizendo que é fundamental. Eu não tenho nenhuma simpatia por esse teto. Eu sou a favor da reforma da Previdência, tanto privada quanto pública, acho que é preciso colocar idade, acho que o sistema de aposentadoria básico, aquele que o governo garante para a população, não foi criado para premiar quem trabalhou muito, essa não é a lógica dele. A lógica dele é dar uma garantia de velhice digna para as pessoas que trabalharam. Eu acho que tem que se rever o problema do salário mínimo - aquela fórmula de salário mínimo que inventaram (correções pela inflação mais a variação do PIB) não faz o menor sentido. A única fórmula que se admitiria é de acordo com o aumento da produtividade, mas aí produtividade quer dizer renda per capita, e isso quer dizer que teríamos que reduzir o salário mínimo, o que também não é o caso. Essas fórmulas não funcionam. O aumento do salário mínimo que aconteceu no governo Lula foi uma coisa ótima, aumentou-se 52% em termos reais e havia espaço para isso. Mas aí continuou no governo Dilma, quando não havia mais espaço para isso, de forma que essa foi também uma das causas da crise. Em relação ao teto, eu já disse que não tenho simpatia nenhuma. Para você controlar a despesa ENTREVISTA | LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA


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