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Revista da CAASP - Edição 24

Revista da CAASP - O trio Temer-Meirelles-Ilan começam bem ou começa mal? Luiz Carlos Bresser-Pereira - O governo como um todo, no meu entender, começou muito mal, porque eles adotaram uma postura rigorosamente neoliberal, rigorosamente radical nessa posição, que depois eles não vão conseguir realizar. De qualquer forma, eu acho que há uma leitura equivocada do que está acontecendo no Brasil e no mundo. Não há dúvida de que houve um fracasso no plano econômico do desenvolvimentismo do Lula e da Dilma - mais da Dilma, mas do Lula também. E então, já que perdemos no desenvolvimentismo, vamos nos entregar nos braços do liberalismo econômico mais radical? Isso é uma tolice. O liberalismo radical se desmoralizou mais uma vez em 2008, na grande crise financeira. E hoje, nos países centrais, o que você vê é o abandono do neoliberalismo: você continua conservador, mas agora você olha para o estado intervindo muito mais na economia, você vê uma proteção à indústria nacional muito maior do que se tinha antes. Então, nós estamos mais uma vez andando na contramão da história. O que estão fazendo mais especificamente Meirelles e Ilan? O Ilan, por enquanto, não mexeu na taxa de juros. Está mais do que na hora de mexer na taxa de juros. Ao meu ver, é um absurdo completo o Brasil estar com esta taxa de juros altíssima em meio a uma recessão tão violenta. “Ah, mas é preciso combater a inflação!” A inflação está USAR O CÂMBIO sendo combatida pela recessão, o juro alto PARA CONTROLAR A é para fazer mais recessão ainda. E há outro INFLAÇÃO DESTRÓI problema muito grave, que é o câmbio. O câmbio voltou a se apreciar. A INDÚSTRIA. ISSO NÃO SE FAZ Logo quando a indústria começava a se recuperar. Sim, logo quando ela começava a se recuperar. Eu poderia até ficar feliz, porque venho desenvolvendo toda uma teoria, uma macroeconomia novo-desenvolvimentista, que diz que existe uma tendência à sobreapreciação cíclica e crônica da taxa de câmbio, de forma que, quando há uma crise, a taxa de câmbio deprecia, como aconteceu a partir do segundo semestre de 2014, mas depois, se você deixa, ela começa a apreciar de novo - é o que está acontecendo. Isso é um desastre para a economia brasileira. Pretende-se controlar a inflação com o câmbio? Pois é. Não ficamos todos indignados quando Dona Dilma tentou controlar a inflação com o preço do petróleo e o preço da energia elétrica? Não achamos que isso era um absurdo? Pois bem, eu acho que é absurdo maior ainda controlar a inflação com o câmbio: você destrói a indústria em troca de alguma queda na taxa de inflação. Isso não se faz. E quanto à parte fiscal? O que senhor acha das medidas anunciadas por Henrique Meirelles? 10 REVISTA DA CAASP LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA | ENTREVISTA


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