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Revista da CAASP - Edição 23

relatório da iniciativa Assistência à Saúde em Perigo, que reúne uma breve amostragem do número e a gravidade dos ataques contra profissionais, estabelecimentos e veículos de saúde de 2012 a 2014 em 11 países. “Temos procurado encontrar um equilíbrio entre aliviar o sofrimento das vítimas nos conflitos e não arriscar a vida dos nossos colaboradores”, salienta. Entre 2012 e 2014 foram registrados ao menos 2.398 incidentes de violência contra serviços de saúde, nos quais mais de 4,2 mil profissionais foram atacados, agredidos, torturados, alvejados ou mortos enquanto realizavam o seu trabalho. É como se mais de três incidentes ocorressem por dia. “Contrariamente ao que se poderia achar, os profissionais de saúde mais afetados por essa problemática são os atores locais e nem tanto as grandes organizações humanitárias, como nós”, ressalta Delgado. Ele explica que isso ocorre pela credibilidade que organismos como a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras conseguiram construir ao longo do tempo. “Ainda assim, o nosso diálogo e aceitação têm se tornado mais complicados, já que os conflitos de hoje contam com diversos grupos que nem sempre tem uma estrutura de comando clara”, ressalva. A médica anestesiologista brasileira Liliana Andrade, de 40 anos, é frequentemente escalada pelos Médicos Sem Fronteiras para ir a áreas de conflito armado ou atingidas desastres naturais. Ela contabiliza no currículo nove missões. A mais perigosa, segundo ela, em Gaza, no ano de 2014, em plena retomada das hostilidades entre Israel e o Hamas. “A gente ouvia explosões o tempo todo. REVISTA DA CAASP 37 Pacientes a espera de atendimento no Malakal Teaching Hospital Eu dava anestesia ao som de explosões, entre paredes tremendo”, descreveu Liliana à Revista da CAASP, poucos dias depois de retornar ao Brasil de missão no Afeganistão. Em Gaza, Liliana trabalhou no Al Shifa Hospital, o maior complexo hospitalar da região, localizado bem no centro da cidade. A escalada de violência que começou em junho de 2014 entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza foi o terceiro conflito do tipo desde que o grupo islâmico passou a controlar a região, em 2007. Era extremamente difícil e perigoso para civis e médicos locomoverem-se pela cidade. A distância entre a residência dos profissionais e o hospital foi diminuída. Ainda assim, houve momentos em que a equipe se viu sitiada na unidade Delgado, da Cruz Vermelha: “Os profissionais de saúde locais são os mais afetados” SAÚDE ICRC/Marco Di Lauro ICRC/Marco Di Lauro CICR/Bruno Radicchi


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