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Revista da CAASP - Edição 23

38 REVISTA DA CAASP de saúde. O medo também tomou conta dos pacientes. “As pessoas começaram a se refugiar no estacionamento do hospital. Era o único local seguro”, conta. Como outras dezenas de estabelecimentos de saúde na Faixa de Gaza, o Al Shifa Hospital também foi alvo de bombardeios. Na ocasião, todo cuidado que não fosse de emergência ficou interrompido. Ao deixar Gaza, Liliana foi encaminhada a consultas psicológicas devido ao estresse provocado pelo que viveu. “Quando a gente olha para os conflitos, o que se percebe é que os países permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), que são os que mais deveriam respeitar as instalações médicas, atuam nos conflitos e muitas vezes são os responsáveis pelos ataques”, declara a advogada e coordenadora de Relações Internacionais dos Médicos Sem Fronteira, Renata Reis. De janeiro a dezembro de 2015, os MSF monitoraram as 70 instalações médicas que apoiam na Síria, e constataram a média de um ataque violento por dia a elas. “Temos nos esforçado para por sobre a pauta da comunidade internacional esse dramático cenário humanitário”, completa. O aumento dramático da violência contra hospitais e profissionais de saúde acompanha a escalada dos conflitos armados no mundo. Os últimos dados do Uppsala Conflict Data Program (UCDP), um programa do Departamento de Estudos para a Paz nos Conflitos da Universidade de Uppsala, da Suécia, mostram que 2014 teve o maior número de conflitos registrados desde 1999 - eram 40 conflitos ativos. O UCDP, que há anos tem registrado informações sobre a violência armada organizada ocorrida ou atualmente em curso no mundo, mostra ainda um aumento no número de mortes relacionadas aos conflitos – mais de 100 mil mortos em 2014, o maior número de mortes anuais desde o fim da Guerra Fria (sem levar em conta o genocídio ocorrido em Ruanda em 1994). Um fenômeno que vem se intensificando neste início de século - o envolvimento de tropas estrangeiras em confrontos internos - tem tornado os conflitos mais longos e sangrentos. A razão é simples: quanto maior o número de atores com participações nas negociações, mais difícil se torna encontrar uma solução definitiva que agrade a todos. Ainda assim, houve um aumento no número de acordos de paz assinados em 2014. Dez acordos foram concluídos, quatro a mais que em 2013. Liliana, dos Médicos Sem Fronteiras: “Eu dava anestesia ao som de explosões, com as paredes tremendo”. ESCALADA VIOLENTA SAÚDE Arquivo Pessoal L. A.


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