Page 36

Revista da CAASP - Edição 23

36 REVISTA DA CAASP É assim que a enfermeira neozelandesa Rebecca Barrell descreve o impacto que os diversos atos de violência ao Malakal Teaching Hospital, no Sudão do Sul, gerou na população da região. Aos 41 anos, Rebecca está em sua quinta missão pela Cruz Vermelha. No dia 29 de fevereiro, às 17h de Gaza (12h no horário de verão de Brasília), ela pausou sua intensa rotina como gestora do projeto de saúde do Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Gaza para dar uma entrevista à Revista da CAASP via Skype. Ela relatou seu esforço e de sua equipe para encontrar espaço a práticas humanitárias num cenário de guerra e extrema pobreza. “Nós estávamos fazendo um bom trabalho. Se não estivéssemos lá, os números de mortalidade seriam maiores, a equipe local deixaria o hospital e fugiria. Nós melhoramos as qualificações do pessoal de saúde e elevamos o padrão de atendimento que eles conheciam e ofertavam aos pacientes”, relata Rebecca, que na época era responsável por uma equipe de nove expatriados do CICV e outras dezenas de profissionais de saúde local. A entrega de cuidados de saúde aos sul-sudaneses é vital. O país criado em 2011, após referendo de separação do Sudão, já nasceu com um dos piores índices de qualidade de vida do mundo. A expectativa de vida não passa dos 42 anos. Falta quase tudo para sobreviver. A escassez de recursos financeiros aliados à guerra enfraqueceu a capacidade das instalações médicas para fornecer atendimento confiável. No Malakal Teaching Hospital, por exemplo, que é referência na região, quando Rebecca chegou a instalação, em 2012, não havia água corrente nem camas suficientes para todos os pacientes. Animais circulavam pelos quartos e corredores, enquanto o teto era dominado por morcegos. Às vezes, a energia elétrica faltava e a enfermeira fazia uso da lanterna de seu celular para proceder ao atendimento dos pacientes. Assim como aconteceu com o Malakal, inúmeras clínicas e farmácias também foram saqueadas ou danificadas, e suprimentos médicos foram roubados ou destruídos. A intensificação dos confrontos e os repetidos atos de violência levaram o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e também os Médicos Sem Fronteiras, que realizavam serviço humanitário na região, a deixarem o local. “No Sudão do Sul, eu realmente percebi o que os conflitos armados fazem com a saúde”, afirma Rebecca. “Os conflitos atuais criaram a situação mais intensa e mais grave já vivida pelas organizações humanitárias”, avalia o chefe-adjunto da Delegação Regional do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no Brasil, José Antonio Delgado, ao apresentar o “Foi como se aquela comunidade tivesse perdido seu coração. Eles perderam o único lugar seguro a que podiam ter acesso”. Rebecca Barrell: “Se não estivéssemos lá, a mortalidade seria maior” SAÚDE


Revista da CAASP - Edição 23
To see the actual publication please follow the link above