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Revista da CAASP - Edição 22---

A campanha pela anistia falava em “anistia ampla, geral e irrestrita”. Era importante avançar um passo ao invés de se tentar avançar três e não conseguir nada. A gente avançou bastante, e discutimos muito. No julgamento do Lula e dos líderes sindicais, por exemplo, em 1978, com vários advogados presentes, a Lei da Anistia foi muito importante, e depois também em casos no Superior Tribunal Militar, onde a gente conseguiu muita coisa, muitos mandados de segurança, muitas absolvições. De qualquer forma, a anistia não pode servir para apagar da história o que foi a ditadura brasileira, o que foram as torturas, os assassinatos. Nesse aspecto, o Brasil está muito longe, por exemplo, da Argentina e do Uruguai. Esses países estão julgando e condenando agentes da ditadura. Sim. Eles fizeram leis dando direito de defesa aos acusados de tortura, e não procuraram vendetas nem vinganças. Eles fazem justiça, porque se trata de crimes de lesa-humanidade. Então você é favor da revisão da Lei da Anistia brasileira? Sem dúvida. Mas é importante ressaltar que na época da lei a gente buscava com a lei avançar em algum sentido, e conseguimos. Vivemos hoje numa democracia de verdade? Se naquela época tínhamos prisioneiros políticos, hoje temos prisioneiros sociais. Se você entrar num presídio, por exemplo, vai encontrar as condições mais terríveis em que um ser humano possa viver. Numa sala onde caberiam 20 pessoas, há 300. Presos dormem em pé. Hoje, parece que há um alvará para prender, e uma busca pela pena de morte por parte de alguns. Temos que lutar contra isso, o que já foi percebido pelos sindicatos e por movimentos como o dos trabalhadores sem teto. A própria OAB, de uma forma ou de outra, tem agido corretamente ao tomar posições. Pode-se dizer que hoje as prerrogativas dos advogados são respeitadas? O que acontece é a entrega de muita liberdade para atitudes do juiz. Também tem muito poder na mão do promotor. Há que se conversar sobre isso. Como era ser dramaturgo na ditadura? Sofríamos perseguições terríveis. Toda peça minha era censurada sem sequer ser lida, por isso optei pelo subterfúgio de usar o nome artístico de César Vieira. Hoje, em determinados lugares me conhecem como Idibal e não sabem quem é César Vieira, e vice-versa. Numa das minhas prisões, fui muito interrogado sobre duas coisas: quanto ganhávamos, como já disse, e também sobre o movimento teatral brasileiro. Eles queriam saber se fazíamos teatro para ganhar dinheiro ou para “comer” as atrizes. Veja que mentes doentias! Eles queriam saber quem transava com quem entre os artistas. Qual era o conteúdo predominante nas peças de sua autoria? Minha peça “Morte aos brancos”, por exemplo, conta a história de Sete Povos das Missões, em 1750, quando os índios e os padres jesuítas construíram a cidade. Os índios elegiam seus caciques, os jesuítas tentavam montar uma civilização aberta. Abril 2016 / Revista da CAASP // 9


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