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Revista da CAASP - Edição 22---

EENNTTRREEVVIISSTTAA 8 // Revista da CAASP / Abril 2016 \\ Fizemos um espetáculo na Vila Santa Catarina e, na saída, os agentes nos viram e ligaram ao major Brilhante Ustra dizendo que a moça não estava lá – ela tinha percebido alguma coisa e fora embora –, e aproveitaram para dizer ao Ustra que estávamos fazendo teatro e dizendo horrores do governo – o que nem era verdade, eles tiravam conclusões absurdas. A ordem de Ustra foi para que prendessem “os cabeças” sem alarde. Eu fui levado preso e preso permaneci mais de 90 dias. Fiquei uns 40 dias no DOI-Codi, na rua Tutoia, depois fiquei no Dops e no presídio do Hipódromo. Fui bastante torturado. Fiquei incomunicável, até que o José Carlos Dias quebrou minha incomunicabilidade, e então tive acesso a advogado, mas não fui solto. Então fui processado na Brigadeiro Luiz Antônio, onde hoje “Os advogados eram seguidos, seus telefones eram grampeados, está instalado o memorial feito pela OAB-SP. sua correspondência era interceptada”. Depois de solto voltei a advogar, não por heroísmo, mas porque era minha contribuição pela volta de um sistema de direito e de justiça. Você pertencia a alguma organização de luta contra o regime? Os militares me perguntavam isso, e eu respondia com a verdade: pertenço a duas – a Ordem dos Advogados do Brasil e a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Você foi presidente em exercício da UNE (União Nacional dos Estudantes). Esteve no famoso Congresso de Ibiúna, quando foram presos cerca de mil estudantes? No caso de Ibiúna eu atuei como advogado. Mais de 300 dentre os estudantes presos foram clientes do meu escritório. Fomos também advogados do (dramaturgo) Augusto Boal, do Teatro de Arena, que foi preso por participar de uma forma ou de outra da luta pela libertação. O Boal, que estava em Buenos Aires, teve seu passaporte vencido e o governo brasileiro se recusou a renovar. Daí, em plena ditadura, nós entramos com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal pedindo o passaporte. Por incrível que pareça, o Supremo, que naquela época era bastante acovardado, deu o mandado de segurança e mandou renovar o passaporte do Boal. Isso foi uma abertura muito grande, pois permitiu que 600 brasileiros espalhados pelo mundo todo readquirissem seus passaportes. Como funcionava a Justiça Militar? Antes, era exercida principalmente quanto a crimes militares, regida pelo Código Militar, o qual, depois, iria reger a defesa dos atos da dita “revolução”. Em1968, vem a parte mais dura do golpe, com o Ato Institucional número 5, o famigerado A.I.5. Isso fez com que poucos advogados continuassem trabalhando nesse campo. Havia um trabalho muito forte na Auditoria Militar, principalmente no sentido de evitar procuras e mortes. Muita gente foi embora do país porque foi avisada por advogados de que iria ser presa. E tivemos muitos advogados presos também. Você acha a Lei da Anistia positiva ou a enxerga como um acordo para salvar a pele de torturadores? É uma questão bastante interessante.


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