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Revista da CAASP - Edição 21

também um autor experimental, um diretor à procura de novas formas de narrativa. Em O Processo de Joana D´Arc o resultado de suas experiências narrativas resultou num relato calcado no racional, absolutamente não-emotivo, que pouco valoriza o vigoroso drama e a tragédia da personagem e que é pouco enfático no que se refere aos aspectos políticos de sua condenação. Tudo em contraste com o substancioso acervo cinematográfico sobre Joana D´Arc. Contam as crônicas históricas sobre o cinema, Florence Delay, a heroína de Bresson ou as lendas, que Maria Falconetti enlouqueceu. Ela foi protagonista de um dos primeiros filmes sobre a heroína, A Paixão de Joana D´Arc, de Carl Theodor Dreyer, produção francesa em cinema mudo, de 1928. A atriz teria sido levada tão longe pelo diretor ao viver o martírio de Joana, e nele mergulhou tão profundamente, que nunca teria se recuperado após a filmagem. Ingrid Bergman consagrou-se duas vezes interpretando Joana D´Arc. Em 1948 estrelou Joana D´Arc, sob direção de Victor Fleming, uma produção americana, filme disponível no youtube em versão dublada, com forte matiz dramático, e em Joana D´Arc no Fogo, no Brasil conhecido como Joana D´Arc de Rosselini, produção ítalo-francesa Maria Falconetti, no filme de Dreyer Fevereiro 2016 / Revista da CAASP // 33 de 1954, dirigida por Roberto Rosselini, seu marido. Outros grandes diretores dedicaram-se à personagem, como Otto Preminger, em filme de 1957 de produção anglo-americana. Mais recentemente, em produção francesa de 1999, temos The Messenger: The Story of Joan of Arc, conhecida no Brasil como Joana D´Arc de Luc Besson, também disponível na internet; com direção de Luc Besson, conta com grande elenco, com Milla Jovovich, John Malkovich, Faye Dunaway  e Dustin Hoffman. Este filme, em linguagem mais moderna, ao estilo grande produção e contando com diversos efeitos especiais para retratar os momentos em que Joana ouvia as vozes, relata a vida da heroína desde a infância e assemelha-se a um épico. Sem necessidade de citar outras obras, basta notar a plêiade de grandes diretores que se dedicaram a retratá-la para constatar a grandeza de Joana D´Arc como personagem histórica e lendária, religiosa e guerreira. Robert Bresson: relato racional Pelo conjunto das obras é que percebemos a dimensão dramática, apaixonada e trágica da heroína. Os filmes, salvo o de Robert Bresson, que não retrata sua vida e sim somente seu julgamento, mostram bem, afinal, o pretexto utilizado para seu sacrifício e martírio: seguindo uma inspiração divina, Joana incutiu ânimo e fé aos soldados franceses ao passo que os ingleses, vendo-a liderar exércitos, passaram a designá-la como bruxa. Capturada pelos borgonheses, contra quem o rei lutava, esses franceses venderam-na ao bispo francês daquele ducado, que, por sua vez, a vendeu aos ingleses. Esta é, muito resumidamente, a história que em legendas Robert Bresson afirma que todos conhecem. (Luiz Barros)


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