Page 32

Revista da CAASP - Edição 21

\\ A Joana D´Arc de Bresson A grandeza e as peculiaridades da história de Joana D´Arc renderam um sem número de representações artísticas: livros, peças de teatro, musicas e filmes, desde a era do cinema mudo até os tempos atuais. Na atualidade a heroína é também inspiradora de personagens de inúmeros videogames, em sua condição de santa-guerreira. Todos os filmes sobre ela retratam o julgamento da camponesa heroína e mártir da unificação da França, que liderou exércitos franceses contra os ingleses em batalhas decisivas durante a Guerra dos Cem Anos. Os procedimentos inquisitórios do Auto-de-Fé que levaram Joana D´Arc à fogueira aos 19 anos de idade são narrados em todos esses filmes, naturalmente, eis que correspondem à parte fundamental de sua saga, quando à sua figura heroica agrega-se a dimensão do martírio que, cinco séculos após ter sido queimada na fogueira, levou-a à canonização. De uma forma ou de outra, os diversos filmes apresentam os conflitos da jovem camponesa que ouvia vozes vindas de Deus por meio de santos que a incitavam a defender seu rei e seu país invadido pelos ingleses, e, no que se refere a seu julgamento, apontam erros de forma e de conteúdo em sua condenação por heresia, num tribunal religioso, quando a motivação de seus acusadores era política e de ganância financeira, tendo o bispo francês que presidiu o tribunal servido aos interesses dos ingleses em troca de suborno. Mas o filme de Robert Bresson, produção francesa de 1962, O Processo de Joana D´Arc, trata exclusivamente de seu julgamento. Em legendas iniciais o cineasta afirma que a história de Joana é de todos conhecida; e, em legendas finais, indica que 25 anos após sua execução a sentença foi revista pela igreja e ela foi reabilitada. Mas ele não menciona sua canonização, a partir da qual Santa Joana D´Arc passou a ser a padroeira da França. Bresson é consagrado diretor autoral francês. Fez parte do movimento nouvelle vague, que no Brasil influenciou o Cinema Novo, para, a seguir, ser um dos fundadores e expoentes do movimento minimalista. Em seu filme sobre Joana D´Arc verificam-se características dos dois movimentos. Três características deste filme chamam a atenção. A primeira é o clima de conversação que se imprime ao julgamento, relembrando a predominância de diálogos que era uma das marcas do cinema novo francês. A forma desse diálogo/conversação entre os juízes/inquisidores e a acusada, Joana D´Arc, talvez seja a característica mais marcante, que ficará ao critério de cada espectador considerar como instigante ou absurda. Trata-se de um toque minimalista de Bresson: todos, sejam os juízes ou a ré, falam no mesmo tom de voz durante todo o julgamento, por toda a duração do filme. A terceira característica marcante do filme de Bresson é a fotografia, por sua cor. É uma película filmada em branco e preto, mas esse branco e preto não é propriamente o convencional e sim puxado ao cinza. Bresson foi um cineasta muito influente, não apenas por seus filmes como também por seus trabalhos teóricos sobre cinema, por seus artigos e livros. Além de ser um diretor autoral, foi 32 // Revista da CAASP / Fevereiro 2016 Fotos WEB


Revista da CAASP - Edição 21
To see the actual publication please follow the link above