Page 15

Revista da CAASP - Edição 21

Outro dado positivo para a educação é que em 2016 entra em vigor a Emenda Constitucional 59, a qual torna obrigatória a matrícula escolar de todos os brasileiros de quatro a 17 anos. Os pais que não conseguirem vagas para seus filhos dessa faixa etária, portanto, podem procurar o Ministério Público. Antes que alguns se percam em comemorações, é preciso salientar que a qualidade do ensino oferecido aos jovens matriculados deixa muito a desejar – eis a chave da questão. “Nós temos um nível de escolaridade geral da população muito baixo. Isso impacta, por exemplo, na hora de contratar pessoas que tenham de interpretar um texto, e mais ainda na hora de encontrar pessoas que tenham um bom texto”, constata a professora Pilar Lacerda, que foi secretária de Educação Básica do MEC durante o governo Lula, enquanto o ministro da Educação era Fernando Haddad. Reverter esse quadro de desqualificação requer, junto com boas ideias, dinheiro. “A escola brasileira tem carga horária de quatro horas, uma das mais baixas do mundo ocidental. Para passar para sete horas, é preciso construir mais prédios por causa da extensão dos turnos”, explica Pilar, que hoje dirige a Fundação SM de pesquisas e desenvolvimento de programas educacionais. A ampliação física das escolas torna-se necessária também por outra razão, como explica a professora: “Se você for a uma escola na Alemanha, na França, no Reino Unido ou na Argentina, dificilmente encontrará mais de 30 alunos por sala. Aqui, trabalhamos com 40 e até 50 estudantes por sala. Como é que se faz um ensino personalizado com 50 alunos numa sala?”. Paralelamente, urge formar melhor os professores. Por óbvio importante, aumentar o salário desses profissionais é pouco para solucionar o problema (em janeiro, o piso salarial do professor subiu de R$ 1.917,78 para R$ 2.135,64). “Não existe uma ‘bala de prata’ da educação, uma medida que resolva tudo. Os professores de hoje são profissionais de formação precária, que não conseguiram fazer outra coisa. A Austrália, o Reino Unido e a Coreia do Sul fizeram uma coisa interessante: identificaram os melhores alunos do ensino médio e os incentivaram a se tornar professores. Só que eles não trabalham por R$ 2 mil por mês”, pondera Pilar Lacerda. Aprender a ensinar - O nome de Eunice Durham é lembrado sempre que o tema é educação. Antropóloga, professora titular aposentada da Universidade de São Paulo, ela foi secretária de Política Educacional do MEC durante o governo Fernando Henrique Cardoso e presidiu duas vezes a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), nos governos Collor e FHC. Ela é dura com os docentes. “O Brasil é um dos campeões mundiais de falta de professores na escola”, critica Eunice. “Para mim, uma greve de professores que dure meses é inconcebível, porque o efeito sobre as crianças é muito prejudicial. A legislação dos funcionários públicos do ensino é muito leniente”. Seu ataque, nesse ponto, volta-se aos representantes da classe. “O excessivo poder do sindicato dos professores é um entrave, pois o sindicato não se importa com a qualidade da educação. Você não faz nenhuma reforma do ensino se não eliminar os professores incompetentes, se não terminar com as faltas, se não reduzir as greves”, diz. “Defender o professor não é a mesma coisa que defender o ensino. E isso transforma o sindicato num obstáculo”, frisa. A educadora, como todo mundo, acha que o professor deve ganhar bem, mas para tanto precisa dominar os assuntos que irá ensinar: “Os alunos que saem dos cursos de pedagogia têm uma formação em grande parte feita em faculdades particulares, muito precária. E nas escolas públicas, que são as mais conceituadas, a formação é muito teórica. Não que a teoria educacional não seja importante, mas há que se olhar também para prática educacional. Para ensinar, é preciso aprender a ensinar”. WEB Fevereiro 2016 / Revista da CAASP // 15 Jane de Araújo / Agência Senado “Não se pode manter sentadas em frente ao quadro negro crianças que estão conectadas à internet”


Revista da CAASP - Edição 21
To see the actual publication please follow the link above