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Revista da CAASP - Edição 20

de uma personalidade, de um mero suspeito, não há oportunidade para que pessoa acusada ou seu advogado possam prestar esclarecimentos sobre o fato. A reportagem policial é feita ao calor dos acontecimentos, quando os jornalistas procuram uma repartição policial para colher informações. Geralmente, aquela primeira informação não é conflitada, não há um acompanhamento em segundo grau do processo. Fotos Bebel Ritzmann Como os processos em geral não são sigilosos, seria interessante que os meios de comunicação acompanhassem determinados processos de interesse público – não todos, é claro – também durante a instrução, perante o juiz, perante o promotor, perante o advogado, e também o resultado do processo. Onde muitas vezes há uma antecipação de condenação pela natureza da notícia, não há um esclarecimento posterior mesmo quando aquele acusado é absolvido. A notícia provoca um dano irreparável, muitas vezes sem confirmação de condenação ou retificação com a absolvição. “O brasileiro precisa de esclarecimentos sobre Direito Penal” Esse é um ponto que me parece absolutamente lacunoso nos meios de comunicação em nosso país. E acho que a Ordem dos Advogados e as associações que se dedicam à prática do Direito e da Justiça deveriam meditar sobre isso, apresentando sugestões no sentido de que a notícia sobre os fatos criminosos deveria ir além da informação inicial, ter um seguimento com o andamento do caso em juízo e o seu resultado final. Neste momento, não sem razão, o povo brasileiro tem uma ânsia por condenação. A mídia não insufla esse sentimento? Isso existe em todo o mundo de modo geral, se bem que em outros países com certa mitigação, sem o alarde sensacionalista que vemos em nosso país não só no noticiário policial, mas também em programas específicos de natureza policial. O que ocorre muitas vezes é um processo de catarse, na medida em que a população, acompanhando o programa policial pela televisão, sente-se de certa maneira compensada de suas angústias pessoais, de seus dramas pessoais, pela desgraça alheia, pela tragédia alheia. Então, é por isso que determinados âncoras, jornalistas ou radialistas, têm facilidade em disputar cargos eletivos. Seus programas têm uma audiência muito grande e sua posição, permanentemente denunciando a existência da violência e do crime, lhes rendem dividendos políticos, como ocorre com programas em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Paraná... O crescimento de candidaturas de profissionais de mídia que, de certa forma, exploram a violência, não é um mau sintoma para a democracia? É. A notícia do crime e da violência ocupa espaço exagerado na televisão. A minha conclusão sobre isso é que é muito mais fácil para a reportagem televisiva colher uma informação junto a um setor policial do que fazer um garimpo, um trabalho de campo sobre outros problemas sociais. Dezembro 2015 / Revista da CAASP // 9


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