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Revista da CAASP - Edição 20

entrechocam tendências ultraconservadoras e ideais revolucionários e de independência, foram precursores os homens de Vila Rica. Ao longo destes anos, afora outros importantes episódios, são acontecimentos fundamentais na construção da nação brasileira: a Inconfidência Mineira, a vinda de D. João VI e, ainda, a própria Independência em 1822. O Arcadismo, de que os poetas mineiros foram os pioneiros no país, representou um período de passagem entre o Barroco e o Romantismo, retomando temas da Antiguidade, à forma que se designou como neoclássica. Se isto correspondia a um Renascimento tardio, esses poetas foram, ao mesmo tempo, difusores do iluminismo francês e das ideias republicanas norte-americanas. Notem-se as datas: a Independência Americana é de 1776; a Inconfidência Mineira e a Revolução Francesa ocorrem no mesmo ano, em 1789. A queda da arrecadação em Vila Rica, justificada pelos brasileiros pela exaustão das minas, mas interpretada pela coroa portuguesa como sonegação, foi o motivo material da derrama que deflagraria a conspiração liderada por Tiradentes. Mas foi esse mesmo ouro de Vila Rica que, no auge de sua abundância, proporcionou a riqueza que permitiu formar uma elite de brasileiros abastados que saía de Minas Gerais para estudar em Coimbra, tendo lá contato com as ideias mais avançadas da época. Retornando à colônia, as influências europeias e clássicas não os tornaram imitadores culturais. Silvio Romero indica que alguns desses poetas eram “os primeiros espíritos poéticos de seu tempo na língua portuguesa”; tendo-se invertido a matriz de influência literária –, segundo ele, seriam os brasileiros que mostravam tendências à literatura portuguesa de então (História da Literatura Brasileira; José Olympio, 1943). Minas Gerais está presente nos temas bucólicos neoclássicos, onde muitos só percebem meras repetições de enredos líricos milenares. Antonio Cândido comenta: “Enquanto Claudio Manuel da Costa a maioria dos poemas pastoris, desde a Antiguidade, tem por cenário prados e ribeiras, nos de Cláudio Manoel da Costa há vultosa proporção de montes e vales, mostrando que a imaginação não se apartava da terra natal e, nele, a emoção poética possuía raízes autênticas, ao contrário do que dizem frequentemente os críticos, inclinados a considerá-lo mero artífice” (Formação da Literatura Brasileira; Livraria Martins, 1959). Muitas foram as formas de expressão desses poetas. Literariamente, é unânime a opinião dos críticos e historiadores, sua melhor vertente é a poesia lírica. Mas também cultivaram com destaque a poesia épica e a poesia satírica, em estilo herói-cômico. Ainda que os sonetos de Cláudio Manoel da Costa sejam leitura sempre indicada pelos conhecedores de literatura, são duas obras de Tomás Antônio Gonzaga as mais conhecidas deste período nos dias de hoje, ao menos de nome. Dezembro 2015 / Revista da CAASP // 39 WEB Alvarenga Peixoto


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