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Revista da CAASP - Edição 20

SAÚDE \\ Tuberculose: mal do Século XIX ainda mata no Século XXI 26 // Revista da CAASP / Dezembro 2015 Astoffolani Reportagem de Karol Pinheiro Foi um alemão magro e de estatura mediana de nome Robert Koch que, no dia 24 de março de 1882, aos 38 anos, anunciou a descoberta do bacilo causador da tuberculose. Na época, tudo o que se sabia sobre a doença era que se tratava de uma patologia infecciosa e maligna, capaz de arrebatar um paciente em poucas semanas ou fazer outros sofrerem durante anos antes de morrer. A cura era praticamente impossível. Dos 50 milhões de habitantes da Alemanha no final do Século XIX, um milhão sofria com a tísica. Oitenta mil morriam todos os anos. A tuberculose era tão temida quanto o câncer é hoje. Com a descoberta de Koch, aquela temível realidade começou a mudar. Há tempos curável, a tuberculose neste início do Século XXI volta a preocupar por ser, não raro, negligenciada. Desde o ano 2000, 37 milhões de pessoas foram curadas graças ao diagnóstico precoce da tuberculose e a taxa de mortalidade global pela doença reduziu-se em mais de 40%. Porém, ainda existem lacunas importantes, as quais tornam a tuberculose, depois da Aids, a doença que mais mata no mundo, dentre aquelas causadas por um único agente infeccioso. Em 2013, 9 milhões de pessoas contraíram tuberculose e 1,5 milhão morreu. Para agravar o quadro, o bacilo da tuberculose está se tornando cada vez mais resistente aos antibióticos de primeira linha usuais e fazendo vítimas em todas as classes sociais. Diante desse panorama, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu em 2015 uma meta ambiciosa: derrotar a tuberculose até 2035. A estratégia de 20 anos pretende que o número de mortes pela doença caia 95% e o de infectados diminua 90%. Além disso, a OMS aposta no desenvolvimento de uma nova vacina até 2025. A estratégia da OMS apoia-se em três pilares: expansão do âmbito e do alcance das intervenções para cuidados e prevenção, com foco em abordagens de alto impacto, integradas e centradas no paciente; obtenção de benefícios completos de políticas e sistemas de saúde e desenvolvimento, por meio do engajamento de um amplo conjunto de colaboradores, incluindo governos, comunidades e setor privado; busca de novos conhecimentos científicos e inovações que possam mudar drasticamente a prevenção e o tratamento da tuberculose. A meta proposta pela OMS representa um grande desafio, principalmente para 22 países que juntos concentram 80% dos casos de tuberculose notificados. São eles: Afeganistão, Bangladesh, Brasil, Camboja, China, Congo, Etiópia, Índia, Indonésia, Quênia, Moçambique, Myanmar, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Rússia, África do Sul, Tailândia, Uganda, Tanzânia, Vietnã e Zimbábue. A chamada “lista dos 22” mostra que, assim como na época em que foi descoberta, a tuberculose é consequência de condições sociais. É basicamente uma doença de países pobres ou extremamente desiguais. Em países desenvolvidos - e em Cuba, que não se insere nessa classe pelos padrões de consumo ocidentais -, a taxa de incidência de tuberculose é tão baixa que a OMS considera a doença erradicada. Segundo Carlos Basília, coordenador do Observatório da Tuberculose da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), que monitora as políticas públicas de saúde e promoção do controle social da doença, a situação brasileira não é tão ruim quanto a de outros países que integram a “lista dos 22”. “Veja o paradoxo: a Índia lucra com a produção de medicamento para tuberculose, e o Brasil é


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