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Revista da CAASP - Edição 20

ESPECIAL \\ Por outro lado, a desigualdade brasileira não será superada sem a adoção de uma eficiente tributação progressiva, entendem economistas de diferentes matizes. Até neoliberais como Samuel Pessoa concordam com isso. É Pessoa quem registra: “Deve haver, sim, uma agenda estruturante para a tributação progressiva, mas ela não é aplicável em ajustes cíclicos, mas no longo prazo. É até surpreendente que o PT, em 12 anos, não tenha avançado nisso”. André Calixtre, como bom economista de esquerda, vai um pouco mais à frente no ímpeto taxador: “A tributação do patrimônio é baixíssima. Qualquer sociedade civilizada controla a transferência patrimonial, a herança, por exemplo. França, Alemanha, Inglaterra e países desenvolvidos em geral têm tributação alta sobre herança porque ela impede a transmissão da desigualdade entre gerações”. // A crise sentida na pele Há dois anos, quando a economia brasileira cresceu 2,7%, o empresário João Roberto Juliano faturava R$ 100 mil por mês, com a fabricação de sacos de lixo a partir de material reciclado. Sua retirada era de no mínimo R$ 10 mil reais por mês. Hoje, quando embolsa R$ 2 mil, faz festa. “A crise me atingiu em cheio”, diz ele. O primeiro impacto foi na escola particular do filho, na época com dez anos. “Eu comecei a atrasar a mensalidade, mas o diretor da escola quis que ele continuasse lá e eu pagasse quando pudesse. Todo mundo achava que a crise ia acabar logo, mas não acabou. Meu filho continuou na escola particular até o fim daquele ano. Aí saiu e foi para a escola pública”, conta. Logo depois, João Roberto cortou o plano médico, cancelou a ida ao restaurante e colocou um ponto final no seu caso de amor intenso com a Sociedade Esportiva Palmeiras. “Eu ia a todos os jogos. Hoje, de vez em quando”, afirma. As brincadeiras de Carnaval no seu bloco, o Pedra no Rim, na Mooca, já não são as mesmas. Antes ele era o maior patrocinador. Hoje a folia diminuiu de tamanho e, para bancar as despesas, tem que pedir ajuda aos amigos. “Eu estava subindo como 24 // Revista da CAASP / Dezembro 2015 um foguete. Tinha apartamento, casa na praia e uma pequena fábrica. A vida me permitia algum conforto. De repente, o que era sonho virou pesadelo”, desabafa. Ele não tem mais a fábrica nem a casa da praia. Alugou o apartamento e foi morar de aluguel em uma casa, tudo para economizar R$ 200, dinheiro que agora faz falta. Também quis alugar uma casa que tivesse garagem, para que pudesse estacionar com segurança a Kombi que comprou e usa para transportar Juliano: renda mensal caiu de R$ 10 mil para R$ 2 mil mensais material reciclado e fazer fretes. A Arquivo J.R.J.


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