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Revista da CAASP - Edição 20

consumam menos”, diz. Ele é um dos economistas para quem a inflação deve ser combatida com redução salarial e desemprego – reconheça-se, nunca escondeu isso. “O desemprego não ocorre em nome do ajuste fiscal, mas da desinflação. Estamos numa espiral preço-salário. Como quebrar isso? Há um conflito distributivo entre empresário e assalariado que faz parte do capitalismo, mas não pode gerar inflação”, ressalta, e sentencia: “A única forma de combater a inflação é aumentar os juros e fazer o assalariado deixar de demandar aumento de salário”. Investimento público e tributação progressiva Antes de ser tragado pela inconsequência econômica do governo, o Brasil, ainda no ano passado, ficou um pouco menos desigual. É o que mostrou a Pnad 2014. O índice de Gini, medida consagrada no mundo inteiro que mede distribuição de renda, recuou de 0,495 em 2013 para 0,490 em 2014 no país. Quanto mais o índice se aproxima de zero, menor a desigualdade. De acordo com a mesma pesquisa, o rendimento médio mensal entre os 10% mais pobres foi de R$ 256,00, perfazendo aumento de 4,1% em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, em faixa superior da pirâmide social, a renda média mensal dos 10% mais ricos foi de R$ 7.154,00, ou seja, 0,4% menor que no ano anterior. No topo, onde fica o 1% mais rico, houve queda de 3,4%, para R$ 20.364,00. “O índice de Gini mostra que a parte estrutural permanece resiliente. O problema encontra-se na parte conjuntural”, explica André Calixtre, diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea (Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas). Para o economista, a crise atual deve-se a “um esgotamento fiscal na tentativa de manter emprego e renda”. Talvez Calixtre cometa um eufemismo para gastança, mas não deixa de procurar uma justificativa. Ele não acha que a crise econômica, em que convivem inflação e desemprego crescentes, recessão e juro básico a 14,25%, persista o suficiente para desfazer os avanços sociais recentes. Calixtre também não gosta do termo “classe C”. “Prefiro chamar de ‘nova classe trabalhadora’. Essa nova classe é conectada com os serviços públicos, diferentemente da classe média tradicional. Ela subiu muito puxada pelo mercado de trabalho, com a redução do desemprego e a melhoria do emprego. Em segundo lugar, subiu puxada por programas sociais”, descreve. André Calixtre, do Ipea: “o esgotamento fiscal foi para manter emprego e renda” O diretor do Ipea considera o ajuste fiscal necessário, mas tem ressalvas à maneira como está sendo realizado: “O governo segurou uma crise com desonerações e outras medidas contracíclicas. Com isso, deterioraram-se as contas públicas. Mas não se devia fazer o que foi feito: deveria ter sido adotado um ajuste gradual a partir de 2014”. Calixtre não enxerga recuperação da economia sem a retomada dos investimentos. “Já foi feita uma política de cortes, agora é preciso uma política de investimento”, assinala. Mas há dinheiro para isso? – pergunta a Revista da CAASP. Assim o economista responde: “Retomar o investimento público não depende tanto de receita. Depende da articulação dos capitais nacionais e do capital estrangeiro coordenada pelo Estado. Há imensos recursos chineses querendo vir para o Brasil”. Dezembro 2015 / Revista da CAASP // 23


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