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Revista da CAASP - Edição 20

Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O instituto constatou ainda redução de 1,2% da renda média da população – R$ 1.889,00 – em relação ao trimestre anterior. Com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) dos últimos 12 meses em 9,93% (maior percentual desde 2003, quanto a inflação alcançou 11,02%), as vendas no varejo recuaram 2,1% em um ano. Atingida em cheio pelo casamento recessão-inflação, a classe média alonga a fila da inadimplência: o Relatório de Inclusão Financeira do Banco Central de 2015 mostra que 45% dos endividados no rotativo do cartão de crédito têm renda mensal de até R$ 2.364,00. Em 1º. de dezembro, a queda trimestral do PIB anunciada pelo IBGE superou a expectativa até dos pessimistas: 1,7%, declínio que teve como componentes mais significativos as baixas do consumo e dos investimentos, e que aponta para uma recessão mais longa do que se projetava. Frios, porém nunca mentirosos, os números são alarmantes, mas em hipótese alguma justificam capas de revista com chamadas do tipo “O Retorno da Miséria” – nem economistas ligados à oposição, ao menos os sérios, apostam nisso. Na verdade, o Brasil nunca foi um país miserável, mas sim extremamente desigual. O mais grave é que o remédio prescrito pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pode matar o doente. Note-se que, por enquanto respaldado pela presidente da República, Levy vive uma espécie de período pré-fritura. “O processo de crise e ajuste fiscal vem surpreendendo pela velocidade com que está revertendo o processo anterior de ganhos salariais reais para a população em geral”, adverte a economista Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. “Esse ajuste fiscal vai agravar as perdas e, o que é mais preocupante, não vai resolver a situação das contas públicas. Trata-se César Viegas Dezembro 2015 / Revista da CAASP // 21 de um aperto numa economia que já estava patinando, com cortes de investimentos públicos já aprovados num momento em que há perda de empregos galopante”, prevê. Para a professora, ainda que tenham sido cometidos “erros brutais” na gestão das contas públicas, mediante desonerações sem critério, por exemplo, “não se pode jogar no lixo todo o processo de Laura Carvalho: “se a intenção é aumentar o desemprego, o redistribuição, de inclusão, de estímulo ao mercado ajuste fiscal é bem sucedido” interno, adotando-se um modelo que só prejudica a arrecadação e gera desconfiança na sociedade”. Enfant terriblé entre os economistas da USP, Laura Carvalho bate duro nos colegas ortodoxos. “Boa parte dos economistas considera esse tipo de ajuste fiscal adequado. Mas adequado para quê? Para controlar a inflação mediante geração de desemprego e redução de salários? Bem, sob esse ponto de vista, o ajuste está sendo bem sucedido”, ironiza. Ela lembra que a inflação registrada em 2010, 2011 e 2012 era percebida principalmente no preço dos serviços, como forma de resposta aos aumentos salariais. “O setor de serviços repassava para seus preços os aumentos salariais. Isso era um problema? Não, porque na verdade a inflação de uns era a renda de outros, e a população mais pobre estava ganhando poder de compra. Aquela inflação só estava prejudicando quem estava acostumado a ver seus ganhos crescendo muito mais rápido que os salários”, diz. E vai além: “Existe uma elite no Brasil acostumada a pagar valores baixíssimos para serviços domésticos, de beleza e muitos outros, que foram os que mais subiram seus preços nos


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