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Revista da CAASP - Edição 19-

ENTREVISTA \\ “Estamos no fim do começo” A fala de Mário Sérgio Cortella, em tom professoral mas sem arrogância, instiga a reflexão. O filósofo é figura frequente em programas de entrevistas e debates em rádio e TV, a abordar com a mesma desenvoltura temas ligados a comportamento, sociedade, política, educação – sempre, como ele próprio diz, com o anteparo filosófico. Seus 27 livros são obras filosóficas acessíveis e nem por isso superficiais. O escritor vai na ferida, pode-se dizer. Seria Cortella um autor de autoajuda? “A filosofia, na origem, é autoajuda”, sentencia. Professor titular do Departamento de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, onde leciona há mais de 35 anos, Mário Sérgio Cortella foi monge conventual da Ordem Carmelita Descalça no início dos anos 70. Ele vê como um benefício da democracia a possibilidade de as pessoas fundarem suas próprias religiões, e o mau emprego do nome de Deus não estaria sozinho no rol dos nossos pecados cotidianos: “A patifaria não é exclusividade do campo 8 // Revista da CAASP / Outubro 2015 religioso”. Na entrevista a seguir, concedida ao editor da Revista da CAASP, Paulo Henrique Arantes, Cortella fala sobre o conceito de “miojização” do mundo, o comportamento das pessoas nas redes sociais, os “democracidas”, o drama dos refugiados na Europa e a xenofobia do brasileiro, o modelo de educação de que o Brasil necessita (ele foi secretário municipal de Educação de São Paulo, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina) e o momento político por que passa o país. “Nós estamos levantando os mecanismos de punição do furto de dinheiro público depois que ele já está nas mãos da autoridade pública. O próximo passo é começarmos a retirar de cena o furto do dinheiro público antes que ele chegue ao cofre público – isto é, a sonegação”, avalia, lembrando que a palavra “crise”, em sânscrito, significa “purificação”. Revista da CAASP – O senhor costuma citar Benjamin Disraeli, primeiro-ministro do Reino Unido no Século XIX, para quem a vida seria muito curta para ser pequena. O que é uma vida pequena? Mário Sérgio Cortella - Uma vida pequena é uma vida banal, superficial, fútil e inútil, uma vida que negue a vibração da própria existência. Uma vida pequena é uma vida desperdiçada, uma vida que mesmo em tese tendo existido não foi suficientemente fértil para que merecesse existir. De fato, a vida tem, concretamente, uma extensão que a gente cada vez mais considera reduzida, mas há um problema mais sério – como diria o mineiro, o importante não é o comprimento, mas a largura. Nesse sentido, uma vida se apequena quando se torna banal, superficial, quando é marcada pela idiotia, ou seja, pelo ensimesmamento. Qual a relação entre o consumismo e a banalização da vida? O consumismo é uma forma de tolice em que a pessoa não consegue ter valores que sejam mais elevados, e ela se ancora naquilo que é mera novidade. Portanto, ela não se apega àquilo que


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