Page 20

Revista da CAASP - Edição 19-

ESPECIAL \\ aliado, mas sofre sucessivas derrotas no Congresso Nacional sem que o PMDB abra mão de cargos no governo. A síndrome afeta toda a base aliada, que, sem coerência programática e de costas para a sociedade, busca benefícios sem dar contrapartida. A oposição tampouco está melhor. PSDB, PPS e DEM, sem definirem rumos claros, oscilam entre o impeachment de Dilma, eleições fora de regras constitucionais e apoio a aumentos de gastos públicos que contrariam suas posições programáticas”. Oportunismo conservador Para Fátima Pacheco Jordão, a hora brasileira é de transição, portanto salutar. Contudo, o período é também fértil para reações oportunistas. “Os políticos conservadores são os mais ativos neste momento – não no sentido da mudança, mas para impedir a mudança”, constata a socióloga, destacando o fato de que hoje, pelo menos, a direita se manifesta: “No passado, era como se não existisse direita no Brasil. Hoje, há setores abertamente de direita, e Eduardo Cunha (deputado federal, presidente da Câmara) é a grande expressão disso. Não adianta esconder o crescimento das igrejas evangélicas, que se deu em silêncio, mas apoiado por governos. Agora, os evangélicos, por meio de Cunha, se expressam com poder e pela direita. Não há nada de antipolítico nisso – isso é transvazar a política”. Lula Marques - Agência PT (Fotos Públicas) Eduardo Cunha: o poder em mãos conservadoras 20 // Revista da CAASP / Outubro 2015 Outro perigo do sentimento antipolítico é o florescimento de candidaturas, digamos, exóticas. Não se trata de questionar a legitimidade deste ou daquele candidato – a Constituição preserva o direito de concorrer a cargos eletivos a todos os cidadãos de ficha-limpa. O problema reside naqueles que, donos de carreiras de sucesso alheias ao mundo político, acabam sendo nada mais que peças a serviço da política em sua mais nefasta tradição. As preferências vão de apresentadores de televisão a humoristas de gosto duvidoso, passando por policiais de ímpetos justiceiros e pseudocelebridades. “Não há dúvida de que o crescimento dessas candidaturas é um sintoma da antipolítica, e isso já é um pouco mais antigo. Os eleitos dessa linha já na década de 1980 levavam, em geral, uma palavra conservadora para a população – por exemplo, com a onda de ‘bandido bom é bandido morto’”, recorda Fátima Pacheco Jordão. “Acho que, hoje, tais figuras continuam em exercício por causa de um novo componente, que é a falta de equação do sistema eleitoral, sobretudo do financiamento do sistema eleitoral. É evidente que esses candidatos serão mais prestigiados pelos partidos que têm falta de dinheiro”, prevê, observando que nem todos os candidatos “exóticos” servem ao jogo de interesses da velha política: “O Romário (senador pelo Rio de Janeiro, ex-jogador de futebol), por exemplo, revelou-se um político bastante interessante, bastante provocador”. No entender de Rubens Figueiredo, “é muito difícil realizar algo construtivo com voto de protesto”. Ele lembra que a candidatura do comediante e hoje deputado Tiririca, considerado um fenômeno eleitoral, foi uma “invenção” de Valdemar Costa Neto, político de longa carreira condenado no processo do “mensalão”. De qualquer modo, o Brasil não se descola do Primeiro Mundo nesse quesito. Na Itália, o cenário político tem cada vez mais como protagonista o comediante Beppe Grillo. Nos Estados Unidos, o Partido Republicano deverá escolher, em suas prévias às eleições presidenciais, entre o bilionário Donald Trump, que ficou famoso por apresentar um reality show, e o neurocirurgião Ben Carson,


Revista da CAASP - Edição 19-
To see the actual publication please follow the link above