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Revista da CAASP - Edição 19-

Ricardo Bastos Outubro 2015 / Revista da CAASP // 19 antipolítico no seio da população, o qual ganha corpo a cada dia embalado pela Operação Lava Jato e a recessão econômica. Onda positiva, mas que não pode descambar para a antidemocracia. O risco existe: recente pesquisa Ibope mostra que 66% dos brasileiros não nutrem simpatia por qualquer partido político. Conforme outra sondagem, do Datafolha, 82% têm uma visão negativa do Congresso Nacional. Já a Presidência da República e os Ministérios contam com a desconfiança de 78% da população. “A antipolítica é crescente no Brasil e no mundo. As representações políticas estão desatualizadas: a sociedade correu muito mais rapidamente nos seus arranjos, transformou-se muito mais rapidamente. O sistema político não percebeu isso”, avalia Fátima Pacheco Jordão, socióloga e especialista em pesquisas de opinião. “A roupa política está com a numeração menor que a da sociedade”, sentencia. Externada de várias formas, organizadas ou não, talvez a antipolítica à moda brasileira não seja bem exemplificada pelas manifestações de rua de 2015 – estas deflagradas especificamente contra o governo de turno e abraçadas por políticos tradicionais da oposição –, mas sim pelas estrondosas mobilizações de junho de 2013, que entre outras coisas cobravam serviços públicos de qualidade. “Enquanto o andar superior da sociedade vê o fiscalismo como ajuste de caixa, a população o vê no sentido de troca: ela paga impostos e não vê retorno. E essa falta de retorno é explicada por deficiência de ordem política”, nota Fátima. “Junho de 2013 foi consequência de uma sociedade que avançou. Foi quando se percebeu a contradição entre o que era prometido e o que era entregue”, assinala o advogado e cientista político Oscar Vilhena Vieira. “Junho de 2013 derrubou os partidos”, corrobora o também cientista político Rubens Figueiredo. “Grande parte dos manifestantes repudiou a participação de partidos ou rejeitou o seu papel de representação. Isso não foi suficiente, contudo, para levar os líderes partidários a enfrentar a situação”, verifica José Álvaro Moisés, diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo. Em artigo publicado em agosto último, intitulado “Os partidos estão colapsando?”, Moisés salienta que, na Itália, a Operação Mãos Limpas desacreditou a Democracia Cristã, o Partido Socialista Italiano e o Partido Liberal ao “lançar luz sobre a gigantesca rede de corrupção que dominava a vida política e econômica daquele país”, e diz que o sistema partidário brasileiro pode tomar o mesmo rumo como consequência da Operação Lava Jato. Assim escreveu o professor da USP: “Os partidos vivem seu pior momento desde o fim do processo de democratização. Após mobilizar corações e mentes para o resgate da dignidade da política, o PT traiu seus princípios, aceitou a cultura dos malfeitos e, sem conseguir se explicar, perde a confiança de eleitores e militantes. Opondo-se a parte das políticas de ajuste do seu próprio WEB Fátima Pacheco Jordão: “a roupa política está com numeração menor que a da sociedade” Junho de 2013: povo nas ruas contra políticos e partidos em geral


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