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Revista da CAASP - Edição 19-

Já que o senhor citou o antropólogo Darcy Ribeiro, idealizador dos Cieps concretizados por Leonel Brizola, vamos falar sobre educação. Quem educa pior a criança hoje no Brasil, as famílias ou as escolas? A escola não é responsável pela educação das crianças, mas pela escolarização. Há pessoas que confundem isso de maneira deliberada. A responsabilidade pela educação da nova geração é da família de modo primário e do Estado de modo subsidiário. Não se entenda que escola faz educação – ela faz um pedacinho da educação, quatro horas por dia, com 35 pessoas em sala, oferecendo merenda e proteção para que a criança não se mate, e ao mesmo tempo tendo que ensinar educação sexual, educação para o trânsito, educação ecológica, educação para o trabalho e educação contra a droga, além de português, história, geografia e matemática, com um professor ganhando 2.300 reais por mês. Supor que a escola faça educação é não entender que a escola tem um limite absolutamente evidente em relação ao seu território. Escola faz escolarização. Quem faz pior e educação no Brasil? O Brasil, a leniência de uma parte das autoridades, a cumplicidade de classes médias acovardadas, as elites predatórias que só anunciam a educação como prioridade no campo do discurso e, claro, a nossa incompetência no ramo da escola. A escola é pedaço de um drama que alguns querem chamar de tragédia, para dizer que não tem autor. É preciso lembrar que a educação não é um crime perfeito em que só haja a vítima. O que o senhor acha do modelo educacional federalizado proposto pelo senador Cristóvam Buarque? Eu acho que o modelo proposto pelo senador Cristóvam, dentro de uma Nação como a nossa, ofereceria uma ausência de democratização das instâncias locais e regionais. Esse modelo que ele traz à tona é o modelo francês, que se chama de napoleônico, que no Brasil foi trazido pela universidade. A universidade no Brasil nasceu de cima para baixo. Trata-se de um modelo napoleônico stricto sensu do Século XVIII e do início do XIX. Acho que o professor Cristóvam está correto na intenção, isto é, oferecer uma condição idêntica, isonômica, de equidade, mas isso pode ser feito com os mecanismos de financiamento que se anunciam hoje, com a possibilidade de se chagar a até 10% do PIB e ao mesmo tempo com um reforço, que o atual ministro (Renato Janine Ribeiro, que seria substituído por Aloizio Mercadante dias depois desta entrevista) vem procurando fazer, em relação à formação docente. Enquanto nós não tivermos patamares de formação docente mais adequados, nós não conseguiremos dar esse passo, por isso a federalização stricto sensu não cumprirá essa tarefa, porque de nada adianta “A escola não é responsável pela educação, mas pela descentralizar a execução sem desconcentrar a decisão. escolarização” Nesse sentido, há uma aspiração positiva nas ideias do senador e professor Cristóvam Buarque, mas essa condição eu não a entendo como exequível dentro de uma realidade tão complexa quanto é a desta quinta Nação mais populosa do planeta. Nenhuma Nação, exceto o Estado Soviético, fez isso. A China procurou fazê-lo na Revolução Cultural e o desastre foi evidente. Outubro 2015 / Revista da CAASP // 15


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