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Revista da CAASP - Edição 19-

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ Proudhon, Bakunin e Malatesta levantariam dos túmulos irados ao saberem que alguém pôde se apropriar tão indevidamente de um termo tão belo quanto a palavra “anarquia”, no sentido político original. Lembremos que anarquismo não é ausência de ordem, mas sim ausência de opressão. O que seria exercer o poder com altivez? Seria apenas não se corromper? Não cabe ao gestor público mostrar que ele é eticamente comprometido quando apenas não é corrupto: a competência no exercício do cargo faz parte da ética. A competência é um elemento ético, saber fazer, não só fazer com honestidade. Eu não quero do advogado que me presta serviço que ele apenas não seja corrupto – eu quero que ele tenha competência para fazer o trabalho. Não basta para mim que ele apenas não receba qualquer tipo de propina, eu quero que saiba fazer o que lhe cabe. Eu quero ser um professor - e eu o sou há 41 anos – que, além de não ser corruptível no sentido de receber prebendas ou aquilo que é ilegal, saiba fazer bem meu trabalho. Estelionato independe de corrupção. Alguém que é um mau governante, um mau jornalista, um mau advogado, um mau médico, pratica estelionato quando cobra pelo serviço e não o faz como deveria. E se ele não cobra e pratica do mesmo modo, tem-se o exercício ilegal da profissão. No seu entender a presidente Dilma Rousseff cometeu estelionato eleitoral? Ela deveria ter sido muito mais cautelosa em relação àquilo que estava anunciando. Ao fazer o que dissera que não faria, ela se aproximou do estelionato. Eu não acho que ela praticou de maneira voluntária – se existisse a expressão, seria um estelionato culposo, e não doloso, mas ainda assim ela deu essa marca, e tem que assumir. Como a gente diz no interior, quem tem dó de angu não cria cachorro. E quanto ao argumento de que as campanhas eleitorais são todas mentirosas? Eu acho que esse argumento não seria dela, diretamente. Independentemente das minhas antipatias e simpatias, acho que ela acaba aderindo a essa possibilidade, mas não como convicção. Há pessoas que não querem a presença dela como governante. Essa é uma questão que a nossa democracia resolve. Mas, se você observa essa ideia de algo que não deveria ser feito e foi anunciado, dizer que a eleição produz esse momento é um argumento absolutamente frágil. Espero que, se ela disse isso um dia – eu não a vi dizê-lo -, que tenha sido um momento de irracionalidade política, de desvio de reflexão. A presidente disse que percebeu a gravidade da situação econômica em novembro, depois da eleição. Ela percebeu a gravidade, sabia como gestora que teria de tomar providências e deveria ter tido mais clareza. Há situações em que vencer não é o suficiente, é preciso vencer bem. Darcy Ribeiro sempre foi claro quanto a essas questões. Ele dizia: “Fracassei em tudo que tentei, mas meus fracassos são minhas vitórias. Detestaria estar no lugar de quem me venceu”. 14 // Revista da CAASP / Outubro 2015


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