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Revista da CAASP - Edição 19-

EENNTTRREEVVIISSTTAA \\ O que esperar dos governos europeus em relação aos imigrantes? A Alemanha está tendo a grande chance de recuperar no Século XXI a má fama que construiu no Século XX. Ela está conseguindo isso pela abertura de fronteiras movida por necessidade de imigração, mas também pela necessidade de acolher. Outro modo de a Alemanha demonstrar esse sentimento ficou evidente no jogo contra o Brasil na Copa do Mundo, em que pela primeira vez uma seleção de futebol expressou no ato o conceito de piedade, quando já vencedora por larga escala, cinco a zero no primeiro tempo, decidiu refrear o massacre e nem sequer comemorou os outros dois gols, em respeito ao povo brasileiro que ali estava. Piedade é algo que a Alemanha não demonstrou no Século XX, e que teve a chance de demonstrar no dia 8 de julho de 2014. Retomando, é claro que a xenofobia é inerente à convivência humana. Nossa espécie, homo sapiens sapiens, venceu porque as outras espécies hominídeas foram por nós descartadas. Esse tipo de combate no processo evolutivo da História, hoje, em tese, seria desnecessário, mas em princípio a noção de etnia é avessa à noção de humanidade. Dizem que o Brasil vive uma crise antes de tudo moral. O senhor concorda? O juiz Louis Brandeis, da Suprema Corte Americana, um dia disse a frase definitiva sobre isso: “O sol é o melhor detergente”. O Brasil vive um momento que me dá alegria cívica, isto é, a denúncia, a apuração de fatos, o aperfeiçoamento das instituições no campo do Direito e no campo da produção, a capacidade de uma convivência da cidadania mais sólida – e há um custo para isso. Esse custo é o aclaramento de tudo que apodrece a nossa convivência. Nós temos uma crise nacional – ela não é uma crise moral. Nós temos uma crise no campo da economia, no campo das instituições sociais, uma crise com relação à validade daqueles princípios de convivência que nos deixa a honestidade como referência. E eu tenho uma alegria por agora termos iniciado o processo de limpeza. A sujeira estava entranhada de maneira insidiosa, pérfida e quieta no submundo dos negócios nas áreas pública e privada. Desde quando? Desde 1500, mas de modo mais exaltado nos últimos 50 anos. Eu tenho uma esperança. No momento nós estamos levantando os mecanismos de punição do furto de dinheiro público depois que ele já está nas mãos da autoridade pública. O próximo passo é começarmos a retirar de cena o furto do dinheiro público antes que ele chegue ao cofre público – isto é, a sonegação. Que cada cidade tenha juntos um Impostômetro e um Sonegômetro, pois não basta supor que há evasão apenas daquilo que foi colocado no cofre, mas também quando se impede que valores cheguem ao cofre. 12 // Revista da CAASP / Outubro 2015 “A xenofobia é inerente ao ser humano”


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