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Revista da CAASP - Edição 19-

\\ EENNTTRREEVVIISSTTAA Fotos Ricardo Bastos Então, as redes sociais têm o seu lugar, mas esse hiperdimensionamento do instantâneo tira nossa percepção de história e nos aproxima de autômatos. Nas redes sociais as pessoas ficam também um pouco mais mal educadas, me parece. Guy de Maupassant tem uma frase absolutamente canalha, porém com fundo de verdade para os tempos atuais. De maneira preconceituosa, ele dizia: “Você alfabetiza o povo e a tolice se liberta”. Essa frase, que é de uma elite francesa muito marcada pela recusa à disseminação da escola naquele tempo (Século XIX), se aplicaria hoje de outro modo. Como disse Umberto Eco, quando abre as redes sociais você dá vazão a qualquer tipo de imbecilidade. Isso é inerente à democratização do espalhamento da informação, por isso eu prefiro que assim seja em vez de não termos essa condição que a rede social coloca. O desvio na rede social, para mim, é assimilável tanto quanto são assimiláveis os desvios de uma democracia. Eu prefiro uma democracia com desvios à ausência de democracia. O senhor foi monge conventual, e foi professor de Teologia por 30 anos. Não acha que se fundam religiões com muita facilidade hoje em dia? Eu acho que um dos benefícios que a democracia e a igualdade social trouxeram foi a possibilidade de as pessoas poderem fundar suas orientações religiosas. Embora isso marque um certo exagero, a centralização exclusiva que o Império brasileiro trouxe, depois a própria Primeira República, precisou que nós tivéssemos um presidente ditatorial como Getúlio Vargas, que não tinha uma marca de religiosidade expressa no cotidiano, para que pudéssemos ter liberdade de culto. Liberdade de culto com a impossibilidade de fundar um grupo religioso é estranho. É claro que poderíamos dizer que existe uma reação exagerada disso, mas isso é inerente a uma sociedade que abre esse espaço. Alguns se espelham tanto na sociedade norte-americana, que o façam também nisso. Os Estados Unidos nunca tiveram uma igreja centralizada, cada cidade podia ter sua igreja, cada comunidade podia ter seu modo de prática religiosa. Acho que isso é um sintoma de liberdade. Não é preciso impedir oportunismos políticos e econômicos em nome de religiões? Mas isso não tem a ver com religião. São escolas, hospitais, entidades de classe... a patifaria não é exclusividade do campo religioso. As pessoas falam muito que é fácil abrir igrejas, mas também é fácil abrir escolas, sindicatos, associações. O patife se expressa onde estiver. Como a religião lida com aquilo que é mais forte na nossa existência, que é o próprio sentido da vida, é mais fácil ludibriar alguém no campo religioso, mas eu posso fazê-lo também nos campos da ciência, da prestação de serviços, da mídia. A patifaria é exercida de muitos modos, a religião é só um campo em que ela ganha um ar maior porque alguns patifes religiosos se aliaram a outros patifes de 10 // Revista da CAASP / Outubro 2015 Citando Maupassant: “você alfabetiza o povo e a tolice se liberta”


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