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Revista da CAASP -Edição 18-

Também é por causa disso que não se deve jamais confundir o advogado com seu cliente, pois o acusado, culpado ou inocente, deverá ter na defesa a garantia do julgamento justo, e o advogado trabalha para esse desiderato, sem com isso aderir à conduta em exame, quer fisicamente, quer psicologicamente. A incompreensão pelo trabalho do advogado criminal ganha relevo quando a mídia passa a se interessar pela causa, repercutindo a acusação e suas consequências, em total desequilíbrio com o espaço reservado à defesa. Isso não é incomum, aliás, é regra, pois a sanha popular deseja ver o espetáculo e quanto mais dantesco melhor. Assim, perante a mídia o advogado criminal deve se portar de modo a evitar a tentação dos holofotes, sem se acovardar para, publicamente, enfrentar a acusação que já se encontra repercutida pelos veículos de comunicação. Caso assim não fosse, para a opinião pública restaria tão somente a palavra da acusação, o que desequilibra a relação processual, embora num palco estranho ao processo, pois esta batalha paralela se trava no palco da mídia. A inibição ou a falta de coragem do advogado criminal que atua em causas de grande repercussão traz consequências para o cliente, que se vê defendido no processo e indefeso na mídia, e muitas vezes o dano desta última pode ser superior ao experimentado numa condenação criminal. Não seria demais afirmar que o acusado condenado pela opinião pública, sem qualquer defesa na mídia, teria situação irreversível, mesmo diante de uma absolvição processual. Os mais novos não viveram quando do absurdo episódio da Escola Base, que se tornou um marco histórico de como a imprensa pode destruir vidas inocentes. Este caso inicia-se pela acusação contra proprietários de uma escola infantil, que, segundo algumas mães de crianças que frequentavam tal escola, teriam essas crianças sido abusadas sexualmente pelos donos da escola. Sem qualquer cuidado, a autoridade policial que investigava o caso foi a público para revelar que a acusação tinha elementos de prova. Foi o bastante para se concluir que estávamos diante de uma monstruosidade que merecia resposta imediata. Essa resposta veio pela prisão preventiva dos acusados, que sofreram muito no cárcere, além da destruição da própria escola, que foi alvo de depredação. Durante meses o noticiário nacional foi alimentado pelos desdobramentos da investigação que, ao final, concluiu que não tinha havido qualquer abuso sexual, tampouco qualquer crime. Nem mesmo o processo existiu. Os acusados foram colocados em liberdade destruídos física e psicologicamente. A escola já não mais existia. Um gigantesco erro de consequências irreparáveis. Depois desse episódio, a mídia nacional passou a refletir sobre o poder que tem para destruir pessoas que são, por uma simples notícia, linchadas moralmente e a sua responsabilidade perante a sociedade. Agosto 2015 / Revista da CAASP // 47


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