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Revista da CAASP -Edição 18-

andar de quatro. Como, porém, já faz 60 anos que perdi esse costume, sinto que infelizmente não me é mais possível retornar a ele” Assim insuflado pelo terremoto de Lisboa, a guerra dos Sete Anos, o clero francês e a carta de Rousseau, Voltaire em três dias escreveu Cândido ou O Otimismo, sua obra-prima, em que, escolhendo a doutrina de Leibniz e o próprio filósofo como alvos, não deixa pedra sobre pedra no castelo do otimismo, de cambulhão aproveitando para desancar o Igreja, o clero, a Inquisição, a nobreza, os exércitos, as guerras, a escravidão e outras mazelas humanas, para não dizer que sendo o próprio Cândido, ao longo de todo o livro, a vítima preferencial de seu sarcasmo, não poupa da sátira o homem do povo crédulo e parvo, disposto a acreditar em quaisquer impostores de boa lábia. * Luiz Barros é escritor e jornalista Agosto 2015 / Revista da CAASP // 37 Questão de Honra Filme de 1992, Questão de Honra narra um julgamento pela Justiça Militar de um cabo e um soldado acusados pela morte de outro soldado na Base Naval de Guantánamo, em Cuba, onde os três serviam. Dirigido por Rob Reiner, o filme prende a atenção pelo elenco, que reúne atores famosos e carismáticos nos principais papéis: Tom Cruise e Demi More (os advogados de defesa), ainda bem jovens, como os heróis protagonistas; e Jack Nicholson (o comandante da base militar onde se deu o crime), como o principal antagonista. Um bom time de atores coadjuvantes, como Kiefer Sutherland e Kevin Bacon, completam o competente casting. Tom Cruise, advogado de defesa e herói Analisada de forma isolada, a primeira impressão conclui pelo artificialismo e pela improbabilidade da história, que é contada de forma maniqueísta e caricata – em especial na caracterização do personagem de Tom Cruise no início do filme e na forma como se dá o embate entre os jovens advogados e o comandante da base. No entanto, passados não muitos anos, fatos acontecidos na base americana de Guantánamo, em sequência à guerra do Iraque, vieram a demonstrar que nunca são demasiado irrealistas as obras ficcionais relacionadas aos horrores e aos profissionais da guerra. Mesmo se não encontrarmos realismo na película, em muito deformada pelo já mencionado maniqueísmo e pelas tintas da caricatura, nela encontramos características típicas do cinema hollywoodiano que são apreciadas pelo público. A principal é a transformação de dramas em trhillers: neste aspecto, o roteiro assinado por Aaron Sorkin consegue, a partir de uma peça de teatro de sua própria autoria, criar suspense e gerar a sensação de estarmos diante de um filme de ação, e com muitas passagens feitas sob medida para emocionar. O enredo dramático sustenta-se em dois eixos: de um lado explora a milenar narrativa arquetípica de David e Golias, com o jovem tenente advogado posto a enfrentar o coronel comandante da WEB


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