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Revista da CAASP -Edição 18-

\\ Voltaire e sua imbatível arma intelectual “Cândido ou O Otimismo”, de 1759, é a mais famosa sátira da história da filosofia. Voltaire, ícone do Iluminismo 34 // Revista da CAASP / Agosto 2015 Por Luiz Barros* O livro Cândido ou O Otimismo já foi designado por diversas formas, como romance picaresco, conto filosófico ou fábula, por exemplo. Trata-se do mais famoso livro de Voltaire, em que o ícone do Iluminismo francês satiriza o filósofo alemão Leibniz de forma impiedosa. Cândido – em francês Candide –, conforme o nome sugere, era um rapazote ingênuo e simples, agregado no castelo do barão de Thunder-ten-tronckh, na Westfália – leia-se Alemanha. Suspeitava-se fosse filho da irmã desse barão e de um vizinho fidalgo, o que não vem ao caso, sendo mais importante, para efeitos de sua biografia, antes assinalar sua inquebrantável devoção à filosofia de Pangloss, preceptor do filho do barão. Segundo a doutrina de Pangloss, “tudo tendo um fim, tudo concorre necessariamente para o melhor fim”, de sorte que “aqueles que afirmaram que tudo vai bem disseram uma tolice: deveriam ter dito que tudo vai da melhor maneira possível”. O livro é uma sátira à noção de causalidade expressa pelo princípio da “razão suficiente” e à “teodiceia” de Leibniz (1646-1716), filósofo, lógico e matemático alemão, segundo a qual tudo vai sempre “da melhor forma possível no melhor dos mundos possíveis”, sendo que o melhor dos mundos possíveis é este mundo em que vivemos. Tais formulações da metafísica leibniziana tornaram-se correntes no Século XVIII e originaram-se a partir da forma pela qual o filósofo justificou a presença do mal no mundo a despeito da infinita bondade de um Deus criador todo-poderoso e onipresente na obra Ensaio de Teodiceia, sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal, de 1710. Em síntese, a tese é de que sendo Deus infinitamente bom somente poderia ter criado o melhor dos mundos possíveis. Voltaire (1694-1778) publicou Cândido em 1759, aos 65 anos, mas como relata Will Durant, nos dias despreocupados da juventude, quando se divertia nos salões de Paris, o escritor já se revoltara contra o otimismo antinatural a que Leibniz dera voga. WEB WEB


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